Caso a vacina contra o Virus do Papiloma Humano (HPV) seja implementada e administrada nos países mais pobres, assim como medidas de despiste e tratamento do cancro do colo do útero, mais de 74 milhões de casos desta doença e 62 milhões de mortes podem ser evitados nos próximos cem anos, avançam dois novos estudos, publicados na sexta-feira, 31 de janeiro, no The Lancet. A investigação foi feita pela Université Lavar, a Universidade de Harvard e pelo Cancer Council New South Wales, em coordenação com a Organização Mundial de Saúde.

De acordo com o inglês "The Guardian", as três equipas desenvolveram os seus métodos de forma independente, baseando-se no seu conhecimento biológico relativo ao cancro do colo do útero e em dados de vários países, localizados no leste da Ásia e Pacífico, Europa e Ásia Central, América Latina e Caraíbas, Médio Oriente, Norte da África, Sul da Ásia e África Subsaariana.

Apesar de trabalharem de forma independente, os resultados foram semelhantes, como sublinha Karen Canfell, professora adjunta e diretora de investigação do Cancer Council NSW. "Uma das coisas interessantes para nós sobre os novos estudos é que as três equipes fizeram um trabalho independente, mas obtiveram resultados muito semelhantes."

Embora o cancro do colo do útero seja uma doença evitável, continua a ser a principal causa de morte em alguns países subdesenvolvidos — 570 mil novos casos em todo o mundo ocorreram em mulheres que vivem em países pobres, em 2018.

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Em países desenvolvidos, como a Austrália, os números diminuem drasticamente. Isto tem que ver com a vacinação em meninas, combinada com a despistagem da doença e o acesso a tratamento capazes de reduzir a incidência deste cancro em 97% e a mortalidade quase em 99% — o que, estima-se, será capaz de evitar mais de 74 milhões de casos e mais de 62 milhões de morte nos próximos cem anos.

Para que este objetivo possa ser atingido nos 78 países mais suscetíveis, será necessário que 90% das meninas sejam vacinadas contra o HPV, que 70% cumpram os exames de colo do útero com despiste da doença duas vezes na vida com e que seja feita 90% da cobertura de tratamento de lesões pré-invasivas do cancro  até 2030.

Estes números avançados pelos estudos serão tidos em conta no conselho executivo da OMS na primeira semana de fevereiro e pelos países da Assembleia Mundial de Saúde, em maio.

A Austrália é o país que lidera os bons resultados no processo e prevenção e tratamento do colo do útero, estando no caminho certo para eliminar a doença do país até 2035. No Reino Unido, resultados de estudos também são positivos: um deles mostra que desde que há dez anos o programa de vacinação foi introduzido, não foram detetadas infeções por HPV em mulheres de 16 a 18 anos de idade.

Assim, o desafio é que os países implementem a vacina, os exames e os tratamentos, avançou Canfell, citada pelo mesmo jornal. "As três intervenções são comprovadas e são muito eficazes em países com alto rendimento, mas todas têm desafios em termos de logística e de implementação", disse. "Um dos maiores desafios é que todas as três coisas terão que ser considerações a nível nacional sobre como fazê-lo nos sistemas de saúde existentes ou na construção de sistemas de saúde para implementar essas intervenções. Certamente haverá diferenças na maneira como as coisas são implementadas. ”