Apesar de o teletrabalho deixar de ser obrigatório a partir desta segunda-feira, 14 de junho, passando a ser apenas recomendado, a verdade é que a pandemia veio alterar para sempre a forma como nos relacionamos com os espaços onde trabalhamos.
Para os que podem continuar em teletrabalho, não querem continuar enfiados em casa e não consideram cafés, bibliotecas ou similares uma opção viável, já está online e a funcionar a Out of Office.
Esta startup, que ambiciona ser o Airbnb do coworking, foi criada por José Luís Pinto Basto e conta já com nove espaços (sete em Lisboa, um em Cascais e um na Comporta). O processo de reserva é simples e melhor ainda é o valor por hora: 1,25€. Não tem de fazer qualquer consumo enquanto estiver no espaço: é só chegar, sentar, ligar-se ao Wi-Fi e trabalhar.
Os espaços Out of Office
- Seen, situado no Tivoli Avenida da Liberdade
- Sky Bar, no Tivoli Oriente
- Hífen, em Cascais
- Restaurante Memoria
- Sublime Beach Club, Comporta
Como funciona?
- Criar conta no site da Out of Office.
- Fazer o carregamento do saldo. O pagamento é feito por referência multibanco ou MB Way
- Pode fazer reservas avulso mas há vantagens na compra de pacotes horários. O plano de 40 horas tem um desconto de 10%, ou seja, custa 40€, e o Plano Premium, que custa 95€, é uma subscrição mensal com acesso ilimitado a todos os espaços
- Selecionar o local, escolher a data e o horário. Cada espaço tem a informação sobre os serviços disponíveis (como, por exemplo, wifi e tomadas).
- Tal como qualquer outra plataforma de reservas, há uma secção para avaliações e comentários
- Os espaços que queiram fazer parte da rede Out of Office podem registar-se através do site
"As empresas vão reduzir a necessidade de espaços de escritório"
Filho de peixe sabe nadar e o fundador da startup Out Of Office tem mais em comum com o pai do que apenas o nome. José Luís Pinto Basto (pai), fundador e CEO do The Edge Group, criu o seu primeiro negócio com apenas 15 anos. José Luís Pinto Basto (filho) não começou tão cedo mas vai lançado para uma carreira de sucesso.
O empresário e fundador do Out Of OOffice, de 30 anos, vive fora de Portugal desde os 21, tendo trabalhado seis anos na Telefonica. Revitalizou a marca de roupa portuguesa Labrador e, como se não bastasse o trabalho a tempo inteiro na área de consultoria de estratégia e a gestão de marca, decidiu lançar a Out Of Office. À MAGG, explica como surgiu a ideia e quais os planos de expansão do negócio.
Como surge a ideia de criar o Out of Office?
Senti-me inspirado pelos Estados Unidos. Este conceito Out of Office [O.o.O.] já existe aqui há muitos anos, mesmo antes da covid-19. Existe em Nova Iorque um clube que se chama Soho House, que à primeira vista parece um espaço onde as pessoas vão jantar e beber um copo mas, na verdade, as pessoas usam-no muito para trabalhar. Eu tinha visto que as pessoas iam para lá trabalhar, num espaço que é muito inspirador, nada a ver com o mundo corporativo, com um escritório e mesmo nada a ver com o cowork.
É um espaço, como se fosse um restaurante, mas com um design de interiores espectacular. Tive a oportunidade de trabalhar lá algumas vezes e achei aquilo muito inspirador. Esse factor influenciou-me muito para criar o Out of Office. É essa a minha visão: oferecer espaços diferentes, alternativos ao que é o típico corporate office. Acho que a pandemia veio acelerar este movimento de as pessoas não terem de ir ao escritório todos os dias e poderem trabalhar de casa. Mas, para mim, poder teletrabalhar não significa trabalhar de casa. [A ideia é] dar uma oportunidade às pessoas de trabalharem nestes sítios diferentes e inspiradores.
Qual foi a abordagem aos seus parceiros de negócio? O que é que o Out Of Office tem para oferecer a estes espaços?
Um dos desafios do O.o.O. foi angariar os espaços. Não por causa do conceito em si. Foi chegar às pessoas que têm poder de decisão. Porque, no momento em que cheguei às pessoas que têm esse poder, fez-lhes todo o sentido. O que eu estou a oferecer aos donos dos espaços é uma coisa em que eles até já tinham pensado: eles servem os almoços e os jantares e, entre essas horas, têm o espaço vazio, sem estar a ser rentabilizadas. Eles perceberam logo que isto era uma forma de ter receita adicional sem custos adicionais. O espaço já lá está e as pessoas que trabalham no restaurante também. Eles têm todas as capacidades operacionais para o fazer e perceberam também a oportunidade. Acho que a pandemia veio criar mais mercado mas isso já existia. Já existiam os nómadas digitais, freelancers e mesmo empreendedores, que trabalhavam em cafés e o que a pandemia veio trazer foi ainda mais pessoas que estão dispostas a utilizar este serviço.
Vão rivalizar com os espaços de coworking que já existem em Lisboa. Qual é a vossa vantagem?
Acho que há três grandes vantagens. A flexibilidade: o O.o.O. permite pagamento por hora, que é algo que a maior parte dos espaços de coworking não permite. No limite têm um passe diários. A diversidade: quando a pessoa está na rede O.o.O. vai ter — e é esse o nosso objetivo — acesso a número enorme de espaços. A proximidade: estes restaurantes, cafés, hotéis e outros espaços futuros que quero angariar já lá estão, espalhados por toda a cidade, por todo o País. O que acho que vai acontecer com o O.o.O. é que as pessoas vão ter acesso a um espaço a um passo de distância de casa. Ah, e depois há o preço.
1,25€ por hora parece-me um valor irrisório. Como é que vão ganhar dinheiro com isto?
O business plan faz todo o sentido. A partir de 1000 utilizadores já conseguimos ser rentáveis com os valores em questão. O preço tem de ser competitivo. Estou a fazer uma rede de espaços inspiradores mas tenho que admitir que não são espaços de trabalho. Não têm as mesmas condições de um espaço de cowork. Se calhar não têm aquela cadeira de escritório, o wifi de um giga… tem de ser uma oferta mais económica.
Qual é a meta a um ano em termos de número de parceiros?
Não tenho um número mágico mas gostava de ter uma boa rede perto dos grandes centros populacionais, para ter esta vantagem da proximidade. Para a pessoa poder, de facto, sair de casa, dar uns passos e ter acesso a um espaço do O.o.O. Quero fazer isto em Lisboa, no Porto e por todo o País. Com a pandemia, com isto do teletrabalho, e já tem acontecido em Portugal, com os preços do imobiliário a subir, as pessoas a afastarem-se do centro da cidade... O teletrabalho vai permitir que as pessoas vivam fora das cidades e o O.o.O. também oferece uma vantagem aí: eu consigo, sem investimento porque os espaços já estão lá, oferecer um local de trabalho, por exemplo, na Ericeira, para quem quiser viver lá e não em Lisboa.
A expansão para o Porto está prevista?
Sim, e vai acontecer muito em breve.
Vamos imaginar que eu quero ir trabalhar uma tarde no Seen. Chego lá e como é que funciona?
Cada espaço tem o seu critério. Ou deixa a pessoa sentar-se onde quiser ou tem uma zona reservada. O Seen, por exemplo, vai permitir que as pessoas se sentem onde quiserem.
De que forma é que prevê que a diminuição de restrições, bem como a vinda ou regresso de nómadas digitais estrangeiros, impulsione este negócio?
O que eu acho é que Portugal tem uma enorme oportunidade por isso, pelo mercado dos nómadas digitais, que está a crescer. As pessoas podem, a partir de agora, trabalhar remotamente — e já vemos exemplos concretos de empresas como a Spotify, a Revolut, a Liberty Seguros. Acho que esse movimento vai crescer e Portugal, sendo o país que é, incrível, com o clima que tem, com as pessoas que tem e os custos que tem, torna-se uma grande oportunidade para receber os nómadas digitais.
Se toda a gente começar a trabalhar fora dos escritórios, o que é que vai acontecer a esses espaços?
Os escritórios — e isso já está a acontecer — tendencialmente vão diminuir. Vão sempre existir. Têm-se falado muito dos benefícios do teletrabalho, que são muitos, e todos nós estamos a experimentá-los. Eu adoro teletrabalhar, dá-me a oportunidade de estar com a minha filha, que fez um ano.
Mas também há muitos benefícios em ir ao escritório. É um lugar muito importante na vida do trabalho e das pessoas mas acho que as empresas vão reduzir a necessidade de espaços de escritório.