Silvie Couto, 46 anos, desafiou-se a ela própria a 2 de setembro de 2021: visitar 365 locais em Portugal. A parte do "incríveis", palavra que inclui na descrição do Instagram no qual partilha as fotografias que resultam deste desafio, foi fazendo sentido à medida que partia para cada novo destino.

"É tudo tão bonito e há sítios em que sinto-me abençoada. Tenho de ficar ali a olhar um bocadinho. A olhar, a respirar, a sentir aquele sítio que mexe connosco, com a alma. Ajuda a tranquilizar e a tirar o stresse do dia a dia", refere Silvie à MAGG. Por mais óbvios que pareçam, muitos desses locais são ainda desconhecidos pelos portugueses, até por aqueles que vivem perto destes tesouros.

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"Muitas pessoas dizem-me: 'Eu moro neste concelho ou distrito e não sabia da existência disto". Mas é esse o papel de Silvie Couto: dar a conhecer as maravilhas que andam por Portugal, muitas vezes a poucos quilómetros do local de residência, o que significa também menos custos para viajar e conhecer coisas incríveis.

"O meu objetivo é mostrar aos portugueses e pessoas que me seguem que em Portugal temos o equivalente a qualquer local maravilhoso que existe no estrangeiro. Vou dar exemplos muito concretos: temos uma Veneza [cidade em Itália] portuguesa em Aveiro, temos uma Santorini [ilha grega] no Algarve", compara Silvie.

Optar por explorar o que é nosso e ainda tão secreto é, na visão de Silvie, não só uma mais valia para a carteira — até porque a maior parte dos que partilha são de acesso ou entrada gratuita —, como para a própria economia do País, especialmente numa altura em que ainda tenta recuperar de dois anos de uma pandemia que abalou o setor do turismo.

Para dar a conhecer estes locais, que além de relaxantes evitam os stresses das correrias em aeroportos, Silvie teve de dedicar grande parte do seu tempo a este desafio. Durante o dia a dia é produtora de eventos e aos fins de semana é a Silvie do desafio 365 locais incríveis em Portugal — isto além de ser mãe de Gabriel, 16 anos, e Ema, 13. Quem a acompanha fica sempre à espera do próximo destino, sendo que até agora só falhou uma vez e não foi por culpa própria.

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"Não falhei nenhum dia, exceto um em que não foi falha minha, foi do próprio Instagram. Logo no início do desafio, houve um dia em que o Instagram foi abaixo. Foi o único em que não fui capaz de publicar, mas porque não me deixaram", diz Silvie entre risos.

O prémio de local mais incrível vai para a região norte de Portugal

Todos os anos, pelo menos num fim de semana, Silvie Couto rumava até ao Algarve para uma escapadinha. Contudo, no que diz respeito a férias mais longas, optava sempre por ir para o estrangeiro. Até chegar a COVID-19. "No verão passado, ainda havia bastantes restrições em relação às viagens para o estrangeiro, e, ao contrário do que acontecia nos anos anteriores, optei por ir conhecer a costa algarvia", conta.

A pandemia pode ter tido os seus malefícios, mas neste caso trouxe uma oportunidade única para a agora influenciadora portuguesa. "Fiquei fascinada. Pensei assim: 'Quer dizer. Faço às vezes tantos quilómetros para ir a Ibiza e tenho aqui o equivalente, provavelmente até superior, em termos de praias e beleza natural'. Porque temos lá, por exemplo, formações rochosas como aquele coração muito conhecido na praia da Marinha, que é fabuloso e isso não há em Ibiza, não é?".

Foi quando começou a questionar-se sobre o que poderia encontrar de tamanha beleza noutros locais do País que Silvie pensou então lançar o desafio a si própria, partilhando-o no Instagram, no qual acumula já mais de 14 mil seguidores. Tem tentado diversificar entre campo, serra, praia e cidades, assim como entre norte e sul para dar a conhecer o que há por cá a um público mais vasto.

A praia da Ursa, cujo acesso é difícil, foi um dos locais que mais surpreendeu Silvie por, ao chegar ao areal, ter sentido como se estivesse num "paraíso", mas há outros que estão no mesmo patamar, mesmo alguns mais turísticos. De de todos os que conheceu ao longo dos últimos nove meses, Silvie Couto destaca um lugar especial.

"É em Fraga do Cão, e eu repito isto a toda a gente porque foi realmente o que eu senti quando cheguei lá e pensei: 'Não. É impossível isto não ter tido a mão do Homem. Isto foi alguém que construiu, porque assemelha-se mesmo com um cão'", conta sobre a atração em Torre de Moncorvo, distrito de Bragança, na região Norte do País. Não convencida com o que era indicado sobre a estrutura de pedra em forma de cão, Silvie contactou a autarquia de Torre de Moncorvo, que lhe confirmou que, sim, a natureza foi capaz desta proeza.

Fraga do Cão, Torre de Moncorvo
Fraga do Cão, Torre de Moncorvo créditos: divulgação

Este e outros feitos da mãe natureza são o foco das fotografias de Silvie Couto, que mantém-se quase sempre na retaguarda. A razão? "Pela minha personalidade. Sempre trabalhei em comunicação e marketing, mas nos bastidores, portanto, em todos os meus outros projetos sempre fiquei atrás da câmara e não me sinto muito confortável a aparecer", começa por explicar. "O meu objetivo é mostrar o sítio, a beleza do local e não estar a mostrar-me a mim. Tenho de aparecer porque sou eu que faço o trabalho em si, mas de uma forma mais subtil", continua.

Miradouro de São Bento das Peras
Miradouro de São Bento das Peras créditos: divulgação

E depois dos 365 dias? Dias novos, novo desafio?

Até setembro de 2022, Silvie tem de ter 365 locais visitados. Mas e depois? Há um adeus? Em princípio não, mas certo é que se dedicará a longas horas de sono depois de meses divididos entre o trabalho a tempo inteiro, fins de semana sempre ocupados para conhecer novos sítios e produzir conteúdos para o desafio, e gerir o tempo com a família.

"Até em jeito de brincadeira vou dizer: o meu próximo desafio mal este acabe é tentar dormir 24 horas. Depois logo vejo o que é que eu faço. Se calhar, não publicar todos os dias, mas continuar a divulgar, provavelmente um bocadinho mais", avança à MAGG, referindo-se a partilhas de mais do que paisagens, podendo passar a incluir hotéis e restaurantes que vai conhecendo.

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Ao longo do desafio, Silvie tem sentido que tornou-se mais do que isso. Que, no fundo, acabou por criar "uma comunidade de pessoas que gostam do País e não sabiam que gostavam". Por isso mesmo, pretende continuar de alguma forma como o projeto, e sempre por Portugal, mesmo depois de um ano sem ir para fora.

"Estou mesmo feliz, realizada, com o que estou a fazer e sinto que muito dificilmente irei viajar para fora tão cedo. Porque os meus 365 dias não vão chegar para conhecer tudo o que eu quero em Portugal", refere.

Mas antes que o desafie acabe, Silvie tem um objetivo: conhecer a Madeira.

"É uma das minhas maiores vergonhas, mas tenho de confessar que não conheço a ilha da Madeira. E, no entanto, já estive em Ibiza, Las Palmas, Lanzarote, Tenerife, República Dominicana, México, Capri. Ou seja, eu conheço pelo mundo todo bastantes ilhas e a Madeira, que eu sinto que é 'minha', tem de fazer parte do [desafio]", refere.

A influenciadorl está apenas à espera que o período escolar acabe para poder viajar em família para a ilha, mas garante que não termina os 365 dias sem ir conhecer o arquipélago das ponchas e do bolo do caco.