Qual é o segredo por detrás da forma de Koutney Kardashian, Halle Berry, Adriana Lima ou Vanessa Hudgens? Fácil: a dieta Keto ou cetogénica. Não comece com conclusões precipitadas: esta não é uma daquelas fórmulas ultra secretas, com alimentos estranhíssimos e hábitos mirabolantes que só as celebridades seguem. É bastante mais simples do que isso. É um plano acessível, só com produtos que encontramos nos supermercados, aqueles que integram esta fórmula eficaz, que faz perder peso e diminui a gordura corporal.

Mas isto não significa que seja coisa fácil, porque todos sabemos o quão difícil é enfrentar um processo de perda de peso — quanto mais pensamos que não podemos comer, mais queremos comer, é uma chatice. Mas, pronto, aqui a coisa agrava-se ainda mais porque, com com esta exclusão quase total dos hidratos de carbono, o organismo fica baralhado e sem saber onde ir buscar a energia de que precisa. Mas ele é esperto: vai às gorduras que queremos eliminar. É, o corpo é uma coisa fascinante.

Como é que isto funciona? O que é que se pode comer? Quais as consequências? Tantas questões. Explicamos-lhe tudo sobre a dieta Keto, em três pontos-chave e com a ajuda da nutricionista Ana Lúcia Silva. 

Alimentos in e alimentos out 

Antes de nos pormos com grandes explicações, há uns factos nutricionias que deverá ter presentes para que consiga perceber o shift radical que o regime Keto provoca no funcionamento do organismo. Basicamente, há um grupo de nutrientes, os macronutrientes, que é responsável por nos fornecer energia. É constituído por três grandes intervenientes: os hidratos de carbono, a nossa principal fonte de energia imediata, o nosso combustível para fazermos todas as nossas atividades, para termos tudo dentro do nosso corpo a trabalhar; depois, as proteínas, que são fundamentais para os músculos e células; e, por fim, a gordura, que tem a função de armazenar energia, assim como uma espécie de despensa energética. 

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Na dieta Keto altera-se a função energética destes macronutrientes, através da eliminação ou diminuição drástica de um nutriente e aumento de outros. "Este tipo de dieta consiste essencialmente em baixar o consumo de alimentos ricos em hidratos de carbono e aumentar o consumo de alimentos ricos em proteína, mantendo o consumo equilibrado de gordura", explica a nutricionista.

Assim, deste regime exclui-se a ingestão de cereais, derivados de cereais, de leguminosas e de tubérculos, ou seja, de pão, de arroz, de massa, de batatas, feijão, lentilhas, grão — sem esquecer claro, bolos, bolachinhas, refrigerantes, sumos, chocolates, tudo rico em farinhas e açúcares.

Por outro lado, sobre o macronutriente predominante há várias teses. Umas defendem uma ingestão grande de gorduras (saturadas e insaturadas), mas Ana Lúcia Silva dá primazia à proteína, restringindo a ingestão de lípidos às suas formas mais saudáveis. "Passa aqui a ser fundamental consumir a proteína. Nesta escolha, de origem animal, inclui-se a carne, peixe, ovos e lacticínios, com algum cuidado no teor de gordura", explica. "O consumo das gorduras deverá recair nas fontes mais insaturadas, como o azeite, óleos vegetais, o abacate, peixe, frutos secos."

Então mas, sem hidratos, como é que o corpo tem energia imediata? Boa pergunta. Explicamos isso no ponto abaixo.

O que acontece ao corpo quando tiramos os hidratos de carbono?

Mais do que a restrição calórica, esta dieta é sobre a restrição de hidratos de carbono — alteração que gera uma troca no organismo, muito eficaz para a queima de gordura corporal. O nome Keto serve como abreviatura para o termo cetogénica. A dieta cetogénica é aquela que faz com que o corpo entre num processo de cetose, pela produção de corpos cetónicos, um fenómeno que resulta da eliminação deste macronutriente e dos açúcares do plano alimentar.

"A dieta cetogénica funciona porque, sendo os hidratos de carbono a principal fonte de energia dos glóbulos vermelhos e das células cerebrais, quando a quantidade disponível de glicose, que é a unidade simples dos hidratos de carbono, não está disponível, o corpo tende a utilizar as suas reservas de gordura e, eventualmente, algumas de tecido muscular, como via alternativa para produzir essa mesma glicose", explica a nutricionista. "Os corpos cetónicos são um produto resultante da utilização das gorduras como fonte energética."

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Com tudo isto, o corpo passa a ir buscar às gorduras armazenadas no corpo a fonte de energia de que tanto precisa para trabalhar. No fundo, aqui dá-se uma troca: a fonte de energia principal deixa de ser os hidratos de carbono e passa a ser a gordura corporal, que vai diminuindo, resultando na perda de peso e diminuição dos centímetros.

A longo prazo, a fome também diminui, porque a ausência de ingestão de glicose faz com que deixe de haver subidas e descidas drásticas de glicémia, que nos fazem ficar fracos e com vontade de comer. Mas, a curto prazo, sentem-se os efeitos do período de adaptação. Não é assim tão fácil.

O que é que se sente quando se eliminam os hidratos de carbono? 

Esta mudança de combustível pode gerar alguns efeitos pouco agradáveis: cansaço, dores de cabeça, dificuldade de concentração são alguns deles.

"Uma vez que este tipo de dieta usa uma via alternativa como fonte energética — deixam de ser os hidratos e passam a ser as reservas de gordura e algum tecido muscular — como efeitos indesejados pode surgir a diminuição da capacidade de concentração, obstipação e alguma incapacidade para desempenhos físicos, principalmente os que exigem esforço mais mais elevados", explica Ana Lúcia Silva.

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Além disso, é comum ficar com mau hálito: "Os corpos cetónicos derivam da acetona, daí pode gerar-se a alitose [mau hálito], que cria um odor característico na respiração da pessoa."

Ana Lúcia Silva desaconselha este tipo de dieta a quem faz "faz atividade física de falta intensidade", assim como a "quem tem exigências intelectuais também."

Além do mais, destaca a necessidade de acompanhamento profissional: "O que aconselho é que sigam estes protocolos acompanhados por um nutricionista, porque apesar destas indicações gerais, cada caso é um caso e, por isso, todas as dietas têm de ser personalizadas."