Até agora, Mafalda Sena era mais conhecida como Senasaudáveis, nome que usa no Instagram, mas ao entrar no "Masterchef Portugal", que regressou a 20 de novembro à RTP1, há quem agora a conheça mais pelo nome próprio e pelo bacalhau confitado, com puré de grão e espinafres salteados, que apresentou aos jurados.
Antes de conquistar os chefs Marlene Vieira, Óscar Geadas e Vítor Sobral, Mafalda já tinha conquistado os seguidores com receitas fáceis e, não satisfeita, com infusões, pão e cookies práticas à venda no Celeiro, em especial as novas de Natal.
Para esta quadra, Mafalda Sena reforçou a sua gama de tisanas produzidas no Alentejo pela Paisagindo e criou o Blessed Christmas, com os sabores aconchegantes da época — canela, tomilho-limão, gengibre — e a mesma planta das outras tisanas, Artemísia annua, que ficou conhecida no início da pandemia por ser antifúngica, antibacteriana e antihelmíntica (contra vermes e parasitas). "A base e o objetivo é o mesmo, ajudar à parte respiratória e tornar o sistema imunitário mais forte nesta altura do inverno, mas com um sabor a Natal", refere Mafalda Sena à MAGG.
Mas o que seria de um chá sem umas cookies a acompanhar? Nada. Por isso mesmo, depois das cookies que se fazem em 15 minutos lançadas no verão, Mafalda Sena decidiu criar uma versão de Natal, que se preparara com igual rapidez. "Lembrei-me das gingerbread cookies, aquelas bolachas em forma de bonequinhos. Então, foi usar a mesma base, tirar as pepitas de chocolate e colocar as especiarias, gengibre, canela e etc", explica.
De fora ficam açúcares refinados, apenas de coco, e o glúten, não tivesse a fórmula (à qual só é preciso adicionar ovo e óleo de coco ou azeite) sido criada pela Senasaudáveis. Mesmo assim, até os mais céticos quanto a alimentos que excluem ingredientes mais tradicionais não resistem às cookies de Mafalda. "Consegui chegar aos maridos e namorados, que não acreditam muito nestas coisas e são agora os primeiros a pedir para comprar, e também aos filhos", refere Mafalda.
O novo mix para bolachas de Natal de gengibre é mesmo ideal para crianças, uma vez que além de snack é um passatempo perfeito para esta quadra. "A ideia é passar para as pessoas o hábito de poder tirar os miúdos um bocado do tablet e fazer coisas com eles. Ter tempo de qualidade. E é esse o feedback que as mães têm dado: 'Consigo que vão para cozinha comigo e ainda ficam orgulhosos de levar as cookies para a escola'", conta Mafalda.
Como criar umas cookies à "Masterchef"
Seguir uma receita que se prepara em 15 minutos e tem todos os ingredientes dentro de um só pacote facilita-nos a vida, mas até umas simples cookies podem ser transformadas numa receita digna de apresentar aos chefs Marlene Vieira, Óscar Geadas e Vítor Sobral. Desafiámos Mafalda Sena, que em segundos teve uma ideia e em minutos descreveu toda a receita — o chip da pressão do programa da RTP1 já ninguém lho tira.
"A pessoa pode sempre tornar isto num cheesecake. A base do cheesecake é bolacha. Em vez das bolachas digestivas, podemos fazer esta mistura — mas uma bolacha grande e não várias bolachinhas — e depois fazer o resto da receita do cheesecake normal ou de Natal", sugere Mafalda. Podia ter ficado por aqui? Podia, mas a imaginação da concorrente do "Masterchef" é imparável. "Pode ser giro, em vez do doce de frutos vermelhos, usar um doce de abóbora caseiro".
Pode adicionar canela e gengibre para torná-lo mais outonal e mais um ingrediente incomum. "Um bocado de ágar-ágar, aí mais para a parte molecular, com que também andámos a brincar no 'Masterchef'. Ele [doce] fica com uma textura mais gelatinosa, ou seja, mais estável", explica.
Ah, e não pense que vai apresentar esta sobremesa como é habitual. À "Masterchef", troca-se o formato redondo para partir à fatia por uma dose individual e retangular.
Perguntámos a Mafalda Sena qual dos três jurados desafiava para fazer consigo as cookies de Natal simples ou a recriação em formato de cheesecake e a concorrente escolheu a chef Marlene Vieira. A razão? "Começou a ser mais conhecida pela parte da pastelaria", justifica Mafalda. Hoje em dia, Marlene Vieira faz muito mais do que pastelaria no próprio restaurante Zunzum Gastrobar, mas o conhecimento adquirido daria jeito para dar forma ao "cheesecake à la Masterchef", como denomina Mafalda.
"É para mim muito difícil pensar numa receita em que use margarina"
Apesar da ligação ao mundo da alimentação mais saudável — que começou quando em 2014 mudou radicalmente o estilo de vida para perder peso —, ao embarcar na aventura do "Masterchef", Mafalda Sena não procurava cozinhar apenas o modo mais saudável.
Acima de tudo, a arquiteta de formação, a trabalhar na área naval e produção de conteúdos, foi com o objetivo de aprender novas técnicas (ainda que a mente fuja naturalmente para alternativas mais nutritivas). "Sempre fui para ter mais técnica, até porque já tinha pensado fazer um curso de cozinha no Le Cordon Bleu ou algo deste género. Entretanto, veio a COVID-19. Eu até ia para Londres e na altura tinha pensado num curso de alimentação funcional, algo mais o meu estilo", refere.
A pandemia estragou os planos, mas trouxe outro: a participação no programa de culinária MasterChef, que é quase como se fosse um desses cursos. "Foi juntar o útil ao agradável: ter exposição na televisão, obviamente que para o meu projeto [Senasaudáveis] é interessante, não vou estar com meias palavras, e ganhar mais técnica", continua. Isso implicou cozinhar de forma mais tradicional e menos funcional, mas mal teve liberdade adaptou a cozinha ao seu estilo para mostrar que o saudável não é aborrecido.
"Já tenho muito este chip de traduzir tudo para o saudável. Usar as coisas sem glúten, sem gorduras saturadas. É para mim muito difícil pensar numa receita em que use margarina, vou sempre dar a volta por outro lado", diz Mafalda. Contudo, a concorrente reconhece que só aprendendo as bases pode aplicá-las nas suas receitas. "Fazer uma boa pizza, mas com base de batata doce. Fazer um bechamel para uma lasanha, mas de couve-flor. Para isso preciso de saber como é que se faz o tradicional".
Além da técnica, o programa deu a Mafalda Sena uma maior agilidade de pensamento em situações de stress, bem como capacidade de liderança, como aconteceu no segundo episódio da nova temporada de MasterChef da RTP1. "Se me perguntar se no último episódio pareceu que tinha bom feitio. Não, se calhar não. Mas talvez aquela coisa de na cozinha os chefs terem de ter o punho forte e responder mais ríspido, seja mesmo assim", refere sobre a postura na competição.
O percurso de Mafalda Sena no MasterChef está ainda em aberto, mas sobre o futuro tem uma certeza: não quer ficar presa a um restaurante. "A minha mãe já teve um restaurante há muitos anos e sei a prisão que é. Quando estamos à frente de um projeto desses, se não estivermos lá, não vai correr bem", refere. Mas esta não é a única razão para pôr essa hipotese de parte. "Os momentos de refeição são os momentos em que também gostamos de estar do outro lado, à mesa. E eu adoro essa parte. Portanto, não me estou a ver refém de uma cozinha", explica, acrescentando que também não gostaria do facto de cozinhar sempre as mesmas receitas, mesmo que estivais.
A autora do projeto Senasaudáveis idealiza um futuro na área de consultoria gastronómica e "criação de produtos que as pessoas possam criar em casa", como é o caso das novas cookies e infusão de Natal à venda nas lojas Celeiro.