Este verão há vários quilómetros para percorrer. Arriscamos até a dizer que em vez de contar os mergulhos na piscina, a tendência vai ser contar o número de passos, de quilómetros e de paisagens impressionantes pelas quais vai ser possível passar. Uma delas diz respeito à que é vista no alto dos 175 metros da maior ponte pedonal suspensa do mundo, a Ponte 516 Arouca, outra à beleza das Lagoas do Vez vista através dos novos passadiços e ainda à natureza em estado puro do vale onde foi instalado o novo percurso pedonal da Serra D´Ossa. Mais razões virão, mas antes de partir à aventura, é melhor preparar-se.

Numa visita à ilha de Santa Maria, no arquipélago dos Açores, a propósito da campanha "Açores, Seguro por Natureza", a MAGG conheceu Oliver Handler, um experiente caminhante e guia de trilhos. Ainda antes de o conhecermos, pela ilha já todos falavam de Oliver por estar num exigente trilho, conhecido como Grande Trilho Santa Maria.

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Este trilho junta cinco pequenas rotas da ilha e estende-se ao longo de cinco dias, passando pelas áreas protegidas do Parque Natural e por todos os geossítios. Quanto é que isto se quantifica em quilómetros? 78 de chuva, sol, um copo de cerveja num dos abrigos de apoio do projeto Ilha a Pé e uma natureza desmedida.

Apanhámos Oliver a subir em direção ao Pico Alto e pensámos: "Como é que é possível aguentar um trilho de cinco dias?". Oliver tem os seus segredos, mas quisemos que partilhasse com a MAGG e não hesitou.

Quer saber como deve preparar-se para uma aventura do nível mais fácil ao difícil? Revelamos tudo.

1. É iniciante? Renda-se aos trilhos, mas não se atire de cabeça

Se tem pouca experiência, o melhor é começar pelo nível mais fácil, porque, tal como no ginásio, já sabemos que os danos no dia seguinte são tanto maiores quanto maior for o esforço desmedido. Segundo Oliver, "para um iniciante recomenda-se um trilho fácil com extensão de duas a três horas".

Existem alguns em Santa Maria, nos Açores, basta procurar por "dificuldade - fácil" na ferramenta do site com trilhos oficiais dos Açores. Já por Portugal Continental, vai encontrar vários trilhos com limite de três horas (que correspondem sensivelmente até 9,5 quilómetros), como é o caso da pequena rota de Seteais, de 3,5 quilómetros, com início junto ao Palácio Nacional de Sintra, ou do trilho da Águia do Sarilhão, na freguesia de Campo do Gerês, que passa pela extinta aldeia comunitária submersa de Vilarinho da Furna.

E não é que as crianças também podem participar em alguns dos trilhos? "Sugeria também trilhos fáceis de duas horas, porque as crianças cansam-se facilmente ou ficam aborrecidas", refere Oliver Handler.

2. O que não pode faltar na mochila e na mente

É sabido que em trilhos pela natureza onde não há cafés, restaurantes ou minimercados à mão, é essencial ter sempre um snack na mala para quando a fome aperta. Mas não só. "Um garrafa de água (material reutilizável), impermeável, kit de primeiros socorros, chapéu de sol, protetor solar, frutas ou frutos secos", recomenda Oliver, acrescentando que a lista vai depender do nível e tamanho do trilho. Além disso, principalmente se for nos Açores, é melhor levar roupa quente — é que as quatro estações num dia não são só um mito.

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Algo também fundamental é levar um calçado adequado, que é, aliás, "o mais importante". Se for percorrer um piso molhado, "recomendam-se sapatos de trekking com cano alto (proteção para tornozelos), impermeáveis e com uma sola de qualidade (Vibram)", diz Oliver. Já em terrenos secos, o mesmo não será necessário. "Li na semana passada que o Gonçalo Cadilhe fez um trekking em sandálias de trekking entre Lisboa e Coimbra. Perfeito para pisos secos e tempo quente", refere o guia. Não tem de seguir as pisadas de Gonçalo, mas um calçado leve e compacto será suficiente.

Mala feita, falta organizar a mente. Sim, isso mesmo. O guia de trilhos explica como. "É essencial preparar-se antes de começar um trilho. Ver a previsão metrológica, direção e força do vento, definir a extensão do trilho, pensando se há fontes de água para reabastecer durante da caminhada", destaca, sem esquecer que é preciso levar motivação.

3. Nada tema quanto à sinalização dos trilhos

Ao partir para um trilho deve ter sempre dois objetivos: poder desfrutar da beleza da natureza numa experiência de aventura e não se perder. É para isso que servem os sinais ao longo dos percursos pedestres, mas para os seguir corretamente é preciso saber o que significam.

No caso dos iniciantes, a forma mais fácil é usar trilhos oficiais marcados, cuja sinalização é fácil de entender, diz Oliver, e para os mais experientes que se aventuram por trilhos sem marcação há pré-requisitos essenciais. "Têm de ter habilidade a ler cartas, usar GPS ou bússola. Isso só pode ser adquirido com muita prática no terreno", frisa.

4. Vai sozinho? Conte aos amigos e vizinhos — só tem a ganhar

Antes de partir para um trilho sozinho, deve sempre avisar alguém para o caso de um imprevisto. "Pode acontecer algo, mesmo a um caminhante muito experiente, por isso temos sempre de deixar a informação a alguém", refere Oliver, acrescentando que é também importante levar o telemóvel porque, mesmo sem rede, é possível ligar para o 112 em caso de emergência. "Neste caso é importante saber o nome da zona onde estamos localizados para a equipa que vai ajudar não perder muito tempo a procurar", afirma.

Quer vá sozinho ou acompanhado, deve ainda estar ciente de que podem acontecer situações inesperadas, como alterações de tempo, sendo, por isso, essencial ter um plano de apoio. "Pode ser um caminho alternativo, encurtar o trilho ou até regressar o mais rápido possível para a civilização", sugere Oliver.

5. Se já está a pensar num numa grande rota, saiba como ficar apto

Uma grande rota, com horas ou dias de caminhada, não é para todos e exige algum nível de preparação. "Alem da preparação física (fazer exercício físico como caminhadas ou corridas com alguma regularidade), a parte mental é muito importante", destaca o guia de trilhos.

Foi também assim que Oliver se preparou para o Grande Trilho de Santa Maria: "No meu caso mentalizei-me que ia fazer um trekking de cinco dias e 85 quilómetros e senti-me preparado. Obviamente temos sempre de refletir durante uma grande rota se somos mesmo capazes para conseguir sem demasiado esforço. Para mim, o motivo principal não foi conseguir a grande rota, mas caminhar pela natureza", termina o guia.