A Ordem dos Médicos já havia alertado para a eventual falta de profissionais de saúde "em todas as especialidades" durante o verão, frisando, em declarações à TSF, que as carências não são apenas na obstetrícia. Com escalas por preencher, a falta de médicos continua a fazer-se sentir e, sem medidas concretas do lado do Governo no horizonte, esperam-se períodos difíceis.

O Hospital de Setúbal prevê fechar o serviço de urgências de obstetrícia durante, pelo menos, 21 dias no verão, avançou o diretor do serviço, José Pinto de Almeida, este domingo, 19 de junho. Devido à falta de médicos, as escalas estão feitas "no limite e com muita fragilidade", garante.

Urgências de obstetrícia fechadas em vários hospitais da região Lisboa e Vale do Tejo (e em Braga também)
Urgências de obstetrícia fechadas em vários hospitais da região Lisboa e Vale do Tejo (e em Braga também)
Ver artigo

"A previsão é que vai haver um agravamento nos próximos meses. Este mês de junho foi uma amostra (...) Por insuficiência na constituição das escalas, tenho nove dias previstos de encerramento para julho, seis para agosto e seis para setembro", começou por explicar, em declarações à SIC.

O diretor do serviço explica que a sua equipa médica está "perfeitamente desfalcada" face ao número de utentes que é previsto atender e revela números concretos. Segundo conta, deviam ter 23 especialistas e só têm oito, "menos de um terço". Sendo que, destes, apenas sete fazem serviço de urgência.

O motivo? Os especialistas foram atingindo a idade de reforma ou saindo por opção dos hospitais públicos. No caso de Setúbal, nunca foram substituídos. 

No entanto, trata-se de um problema antigo e generalizado, já que, de acordo com o bastonário Miguel Guimarães, "há vários anos" que a Ordem dos Médicos "anda a dizer que é preciso rever a carreira médica, que é preciso motivar os médicos a ficar no SNS, que é preciso tentar cativar mais daqueles médicos que se formam jovens especialistas todos os anos".

Mais de um milhão e meio de utentes sem acesso a serviços de Urgências. Governo e médicos não chegam a acordo
Mais de um milhão e meio de utentes sem acesso a serviços de Urgências. Governo e médicos não chegam a acordo
Ver artigo

Miguel Guimarães lamenta, em entrevista ao "Correio da Manhã", que as opções dos governos tenham sido diferentes, focadas em resolver pontualmente as situações com "pequenos remendos".

Segundo diz, os médicos têm de se focar, acima de tudo, nas necessidades dos doentes, continuam a aceitar horas extraordinárias. E é por isso que "os médicos continuam a ser escravos do SNS", explica.

O Hospital de Setúbal não é caso isolado. Comissão já tenta coordenar fechos entre hospitais

Os últimos dias têm sido marcados por vários serviços de urgência, sobretudo de obstetrícia e ginecologia, e bloco de partos de vários pontos do País encerrados temporariamente. A dificuldade em preencher escalas com médicos especialistas continua a arrastar-se e a comissão já fala em coordenar o fecho entre hospitais, sobretudo para evitar causar confusão às grávidas, escreve o jornal "SOL".

De acordo com a publicação, Diogo Ayres de Campos, diretor do serviço de obstetrícia do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte e presidente da Associação Europeia de Medicina Perinatal, considera que deve existir uma maior coordenação entre hospitais quando um bloco de partos ou uma urgência encerra. Isto, para que não aconteça em simultâneo e de forma desorganizada.

"Às vezes fecha o bloco de partos, outras vezes as urgências e quando passa para a comunicação social nem sempre é muito claro o que está fechado e isso pode trazer alguma confusão às grávidas", disse, com a ressalva de que as utentes têm de saber para onde se devem dirigir.

A "primeira prioridade" da comissão "é arranjar soluções para o verão", explica.

Para colmatar a falta de médicos, o ministério da Saúde propôs 50€ por cada hora extraordinária, sendo que o valor só será pago aos médicos depois de cumprirem 150 horas extraordinárias com o atual valor, 19 euros. No entanto, este aumento está apenas previsto para os próximos meses e o valor total gasto em horas extraordinárias não pode ultrapassar o de 2019, mesmo que seja necessário para garantir o normal funcionamento das instituições de saúde.

Médicos mostram-se indignados com a atual postura do governo e falam em "deceção total".