Sozinha na ilha. Podia bem ser um dos títulos dos 60 filmes que vão ser exibidos no Festival de Cinema de Gotemburgo, mas é apenas o cenário da experiência de Lisa Enroth, de 41 anos, enfermeira do serviço de emergência na cidade de Skovde, no sul da Suécia. Lisa candidatou-se para ir para uma ilha isolada e foi a escolhida para, a partir daí, assistir sozinha às novidades apresentadas no festival de cinema.

Lisa revela um cansaço natural nos últimos tempos ao ter de combater de perto a pandemia da COVID-19. "Todos os dias no hospital lidamos com muito. Com todos os pacientes e todos os novos protocolos. Nunca me senti tão isolada na minha vida", disse ao "The New York Times".

Foi com este sentimento de desgaste que Lisa assistiu ao vídeo promocional do festival, que anunciava que estavam à procura de alguém que quisesse isolar-se numa ilha durante sete dias para assistir ao programa.

Perante o apelo, Lisa não pensou duas vezes. "Sozinha na natureza, numa ilha? Mais filmes? Fiquei tipo 'sim, eu preciso disto", contou.

Primeiro, teve de vencer o concurso e depois de conseguir a permissão do chefe — que foi a parte mais fácil. "O meu patrão adora filmes", disse. Assim, teve luz verde para se ausentar de 30 de janeiro a 6 de fevereiro, período em que decorre o festival cujo tema é "O Cinema Isolado".

Mas como surgiu esta ideia? "Muitas pessoas que ficaram sozinhas em casa, sem poder visitar amigos ou familiares, encontraram no cinema companhia e conforto”, disse ao mesmo jornal o diretor artístico do festival, Jonas Holmberg. "Queríamos experimentar isso: isolar esse sentimento e levá-lo ao extremo. Então pensámos: 'Porque não isolamos uma pessoa numa pequena ilha com nada além de filmes?'". E assim vai ser, para sorte de Elisa Enroth, que não terá qualquer contacto com o mundo exterior, uma vez que não poderá sequer levar telefone, computador ou livros.

Depois dos concertos em bolhas, esta é mais uma experiência cultural em tempos de pandemia. A diferença é que das 100 bolhas, cada uma com capacidade até três pessoas, este novo festival consiste em oferecer o espaço de uma pequena ilha no Atlântico Norte a apenas uma pessoa. Os filmes serão transmitidos no antigo farol Pater Noster.

Além de assistir a todos os filmes e desfrutar deste refúgio e descanso merecido, a vencedora do concurso está encarregue de fazer um diário, em vídeo, durante a estadia. Veja o último vídeo publicado no site do Goteborg Film Festival, que diz respeito ao terceiro dia da experiência de Lisa.

A par da experiência de Lisa, o festival está a acontecer online (apenas na Suécia), com estreias todas as noites. Cada filme fica disponível durante 24 horas e pode ser visto de diversas formas: no computador, tablet, smartphone, Chromecast ou Apple TV.