Depois de ter estado internado três dias devido à COVID-19, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, está de volta à Casa Branca e ao Twitter, rede social onde afirmou: "Temos medicamentos e eu chamo-os de cura". Trump refere-se ao cocktail experimental de anticorpos monoclonais da farmacêutica Regeneron que tomou e que, de acordo com o "The New York Times", foi testado em células de tecido fetal derivado de abortos.
O jornal americano revela que o tratamento (REGN-COV2) que fez o presidente dos Estados Unidos sentir-se "incrível", disse Trump no Twitter, resulta, afinal, de "anticorpos sintetizados em células vivas e administrados para ajudar o corpo a combater a infecção". Esses anticorpos foram desenvolvidos numa "linha celular [293T] derivada originalmente do tecido renal de um feto abortado na década de 1970", explica o jornal.
Contudo, Alexandra Bowie, porta-voz da Regeneron, já veio esclarecer que essa linha celular foi apenas usada para "testar a capacidade dos anticorpos na neutralização do vírus”, e chegou mesmo a afirmar: “Eles não foram usados de nenhuma outra forma e o tecido fetal não foi usado na pesquisa”.
Ainda assim, o tratamento usado pelo presidente dos Estados Unidos vai contra uma restrição da própria administração, imposta em junho do ano passado, para suspender o financiamento da maioria das novas investigações científicas que usassem como método o tecido fetal derivado de abortos. Na altura, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos chegou a justificar: "Promover a dignidade da vida humana desde a conceção até a morte natural é uma das principais prioridades da administração do presidente Trump".
Donald Trump, agora de volta à Casa Branca, anunciou esta quinta-feira, 9, que quer tornar o medicamento acessível a todos, depois de ter notado melhorias imediatas após iniciar o tratamento. "Podia andar no dia a seguir", disse.
A eficácia do REGN-COV2 ainda não está comprovada, mas a farmacêutica Regeneron já pediu à Food and Drug Administration, a agência que regula o mercado dos medicamentos nos Estados Unidos, uma autorização para uma utilização de emergência.
Trump é uma das cerca de dez pessoas a quem o medicamento foi administrado fora dos ensaios clínicos e apesar de lhe chamar "cura" para a COVID-19, o diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas e médico imunologista da Casa Branca, Anthony Fauci, reconhece que o tratamento da Regeneron pode ter "feito uma diferença significativa de forma positiva", mas alerta para o facto de não se poder falar em "cura" quando se trata de um caso único.
"É preciso fazer um ensaio clínico que envolva um grande número de indivíduos", disse o especialista.
A campanha para as presidenciais nos Estados Unidos continua a decorrer e Trump, de volta à Casa Branca e que diz sentir-se "perfeito", até já mostrou vontade de fazer um comício este sábado, 9, conforme revelou numa entrevista à Fox News esta quinta-feira, 8.