Os advogados de uma das alegadas vítimas de Jeffrey Epstein, Virginia Roberts, deram entrada na segunda-feira, dia 9 de agosto, no tribunal federal de Manhattan, com um processo contra o príncipe André, filho da Rainha Isabel II. Em causa estão alegados abusos sexuais, que datam de 2001, quando a vítima teria apenas 17 anos, e uma alegada ligação do príncipe à rede de tráfico do magnata milionário acusado de tráfico sexual nos Estados Unidos.
A vítima de 38 anos, com 17 à altura dos abusos, terá sido escrava sexual do multimilionário norte-americano Jeffrey Epstein – posteriormente preso por abuso e tráfico de menores em julho de 2019 –, durante aproximadamente quatro anos, e alegadamente 'emprestada' pelo magnata ao príncipe André para propósitos sexuais não consensuais.
"Em várias ocasiões, o príncipe André tocou intencionalmente e de forma ofensiva e sexual a menor [Virginia Roberts] sem o seu consentimento. (...) O abuso sexual do príncipe André a uma criança, que sabia ter sido vítima de tráfico sexual, quando tinha aproximadamente 40 anos, ultrapassa todos os limites da decência e é intolerável numa comunidade civilizada", lê-se no processo oficial contra o filho de Isabel II.
O mesmo documento alega que o príncipe André é um dos 'homens poderosos' a quem Jeffrey Epstein emprestou a vítima Virginia Roberts para sexo e acusa o duque de Iorque de fingir publicamente que não tinha conhecimento do envolvimento de Epstein na operação de tráfico sexual, enquanto simulava simpatia pelas vítima e, em simultâneo, se recusava a colaborar com o FBI na investigação.
Contra o argumento de defesa que foca o facto de o alegado abusador fazer parte da família real britânica, o processo assume que o príncipe André agiu de forma pessoal e não enquanto membro ativo de qualquer papel na família Real ou no governo britânico.
"Estou a responsabilizar o príncipe André por aquilo que me fez. Os poderosos e ricos não estão isentos de assumir responsabilidade pelas suas ações. Espero que outras vítimas vejam que é possível não só não viver em silêncio e medo como reclamar as suas vidas e exigir justiça", avançou a vítima Virginia Roberts, que, atualmente, se apresenta sob o apelido Giuffre (nome de casada), em declarações à ABC News. "Não cheguei a esta decisão de forma leviana. Como mãe e mulher, a minha família está em primeiro lugar. Sei que esta atitude me vai sujeitar a mais ataques do príncipe André, mas também sei que, se não avançasse, estaria a desiludir as vítimas", acrescenta.
Pelas palavras da vítima, a primeira vez que o príncipe André a forçou a ter sexo não consensual teve lugar na casa de Ghislaine Maxwell (braço direito de Jeffrey Epstein na organização da rede de tráfico sexual). Mas os abusos não terão ficado por aqui. Noutra ocasião, em 2001, o príncipe terá abusado sexualmente de Giuffre na mansão de Epstein, em Nova Iorque, quando a ex-namorada e amiga do magnata, Maxwell, forçou Giuffre e outra vítima a sentarem-se no colo do príncipe André enquanto as tocava sexualmente. Por fim, a acusação foca ainda um outro abuso, nomeadamente sexo sem consentimento, numa ilha particular de Epstein, nas Ilhas Virgens, no Caribe, a leste da ilha de Porto Rico.
O processo contra o membro de 61 anos da família real britânica surge praticamente dois anos depois de Jeffrey Epstein se ter suicidado na prisão, em agosto de 2019, enquanto aguardava julgamento pelas acusações de abuso e tráfico sexual de menores. De acordo com o Daily Mail, a ação legal surge dias antes de expirar uma lei do estado de Nova Iorque, que permite que as vítimas de abuso sexuais infantis possam avançar com ações civis que, de outra forma, poderiam ser bloqueadas.
No entanto, esta não é a primeira vez que a vítima acusa o segundo filho de Isabel II. A primeira acusação pública surgiu em dezembro de 2014, como consequência de um caso movido pelas vítimas de Jeffrey Epstein contra o Departamento de Justiça dos Estados Unidos da América. De acordo com a ABC News, à data, a vítima partilhou publicamente que os abusos sexuais por parte do príncipe de Inglaterra foram apoiados por Jeffrey Epstein e Ghislaine Maxwell. Contudo, todas as acusações foram veemente negadas tanto pela ex-namorada de Epstein como pelo palácio de Buckingham, em nome do príncipe.
Numa entrevista à BBC, em 2019, o príncipe André negou todas as acusações. "Tenho dito de forma constante e frequente que nós [o príncipe e Virginia Roberts] nunca tivemos qualquer tipo de contacto sexual". A última publicação na conta de Instagram oficial do Duque de Iorque remete-nos para um comunicado lançado em 2019, meses após o suicídio de Jeffrey Epstein , onde o príncipe pediu para se afastar das suas funções públicas enquanto membro da família real britânica. "Continuo a inequivocamente lamentar a minha associação falaciosa a Jeffrey Epstein. O seu suicídio deixou várias perguntas sem resposta, particularmente para as suas vítimas e eu simpatizo profundamente com todos os afectados, (...)", lê-se na publicação.
O processo avançado em tribunal pelos advogados da vítima, na passada segunda-feira, dia 9, alega que o agressor tinha noção da idade da vítima, informação que teria recebido através de Epstein e Maxwell e admite que "o príncipe André abusou sexualmente da vítima para satisfazer os seus desejos sexuais". Ao longo do documento, lê-se que as acusações focam agressões físicas e emocionais, sendo que os atos físicos personificam abusos sexuais, do toque não consensual ao sexo, em primeiro e terceiro grau.
"Neste país, ninguém, seja presidente ou príncipe, está acima da lei e ninguém, independentemente da sua falta de poder ou vulnerabilidade pode ser desprovida de proteção da por parte da lei", avança o documento oficial de acusação.