"De Mãos e Pés Atados" é como se sentem os mais de 25 mil profissionais do setor do desporto que ainda não puderam regressar ao trabalho devido às restrições impostas pelo governo. Os ginásios reabriram esta segunda-feira, 5 de abril, mas as aulas de grupo só serão permitidas a partir do dia 3 de maio.
"Pensar que um mês não faz diferença é não conhecer esta realidade. A realização de aulas de grupo não apresenta qualquer risco acrescido de propagação do vírus, comparativamente com a sala de exercícios de um ginásio. Nas mesmas condições de distanciamento, é até mais fácil, em muitas situações, o professor das aulas de grupo poder assegurar eficaz e rigorosamente que cada aluno permanece (literalmente) no seu quadrado, do que muitas vezes na área das máquinas de um ginásio", afirma André Manz, impulsionador de uma campanha de sensibilização sobre o tema.
"Os dois espaços são extremamente importantes e complementares. No entanto, um deles é alvo de discriminação. Não faz sentido e desmotiva, ainda mais, uma classe de profissionais completamente esgotada", continua.
"De Mãos e Pés Atados" foi o movimento criado há cerca de 15 dias, na plataforma GoFundMe, com o objetivo de alertar para a importância da atividade física, nomeadamente das aulas de grupo, mas também para a forma como os profissionais deste setor estão a ser afetado. Além do alerta, esta campanha tem como objetivo ajudar este profissionais a nível monetário. Para isso, foi criado um fundo que permite a qualquer pessoa fazer uma doação. Em poucos dias, centenas de profissionais do fitness inscreveram-se neste fundo que será distribuído de forma igual por todos.
"80% desses 25 mil profissionais são trabalhadores independentes, não têm qualquer ajuda. A ajuda que eles têm tido por parte do estado mal chega para pagar a segurança social e as contas do dia a dia. Muitos estão a passar fome, literalmente", diz André Manz à MAGG.
Também José Carlos Reis, presidente da Portugal Ativo/AGAP (Associação de Empresas de Ginásios e Academias de Portugal), em entrevista à MAGG, já tinha demonstrado o seu descontentamento quanto a esta decisão do governo. "Por um lado estamos contentes por reabrirmos no dia 5 de abril, mas desiludidos por não podermos abrir com as aulas de grupo. Há muitas pessoas que vão aos ginásios só fazer aulas de grupo e muitos não devem retomar por este motivo. Acho que nós somos essenciais para a população porque contribuímos para o bem-estar físico e emocional das pessoas", afirmou quando entrevistado sobre a reabertura deste setor.
Segundo o presidente da AGAP, as aulas de grupo são tão ou mais seguras do que o uso de equipamentos individual, já que em todos os ginásios os espaços estão sempre assinalados com a distância a manter entre pessoas. "Nos ginásios não há casos de surtos de COVID-19. Temos demonstrado que a taxa de transmissibilidade do vírus em ginásio é muito baixa (0,3%)", realçou.
Atualmente, o fundo criado pela campanha "De Mãos e Pés Atados" conta apenas com 113 doações e uma angariação de cerca de 3.400€ — valor que se revela insuficiente tento em conta a quantidade de profissionais que pede ajuda.
"Estamos a falar de uma profissão que não tem muitas alternativas à distância. É claro que podem ser dados treinos online. Mas a sua procura, face a tudo o que existe disponível de forma gratuita, é muito reduzida. Além de que a predisposição e vontade das pessoas não é a mesma. Neste momento, instrutores com que o Grupo Manz trabalha há décadas, pessoas que investiram toda a sua vida profissional a tentar melhorar a saúde e bem-estar de outros, estão a ter de procurar carreiras diferentes, em muitos casos aos 40 e aos 50 anos", lamenta André Manz.
Como impulsionador da campanha, afirma que esta foi a única forma de ajudar estes profissionais e apela ao apoio de todos. "A doação de 1 euro por 25 mil pessoas, passa a 25 mil euros, e creio que nem sempre nos lembramos disso. Estamos há mais de 30 anos no negócio do fitness e nunca vimos nada assim."
Veja o apelo de alguns profissionais.