Sahle-Work Zewde tinha 17 anos quando trocou Addis Abeba, na Etiópia, por França. O pai, um oficial do exército imperial, acreditava no poder da educação, e como a mais velha das quatro raparigas da família, tinha a obrigação de mostrar o seu valor. Zewde demoraria nove anos a regressar à Etiópia, mas fê-lo porque sentiu que era o seu dever servir e trabalhar no seu país.
Exatamente 42 depois, nada mudou. Esta quinta-feira, 25 de outubro, Sahle-Work Zewde tornou-se na Presidente da Etiópia. “Eu sou produto de pessoas que lutaram pela igualdade e liberdade política neste país, e vou trabalhar arduamente para os servir”, disse perante o parlamento a mulher de 68 anos. Escolhida por unanimidade, Zewde tornou-se ainda na única mulher atualmente a ocupar esta posição em África.
Quando terminou o curso em Ciências Naturais na Universidade de Montpellier, Sahle-Work Zewde regressou à Etiópia e começou a exercer funções como diretora de relações públicas do Ministério da Educação da Etiópia. Mais tarde trabalhou como embaixadora da Etiópia no Senegal (1989-1993), Djibouti (1993-2002) e França (2002-2006).
Sahle-Work Zewde recorda com muito carinho os tempos em Djibouti. Numa entrevista a propósito dos seus 25 anos de carreira, segundo o Online Ethiopia, disse: “Quando o governo me designou para Djibouti, estava muito relutante em aceitá-lo. Pensava que ser mulher num país muçulmano poderia não ser propício para aproximar os dois países.”
Continuou: “Agradeço ao então chanceler que insistiu para que eu ficasse com o cargo. Estou grata pelo seu encorajamento. Olhando para trás, os melhores anos na minha vida diplomática foram em Djibouti onde posso ver o impacto do meu trabalho”.
Não é a primeira vez que Sahle-Work Zewde faz história
Depois de deixar o cargo de Representante Permanente da Etiópia para a União Africana, Zewde assumiu a sua primeira posição dentro da ONU. Começou em 2009 como chefe do Gabinete Integrado das Nações Unidas na República Centroafricana (BINUCA), onde utilizou toda a experiência adquirida na prevenção e consolidação da paz.
Dois anos depois, chefiou o escritório da ONU em Nairobi, no Quénia. Em junho deste ano, foi nomeada representante das Nações Unidas na União Africana. Na altura, António Guterres, secretário-geral da ONU, salientou que era a primeira vez que uma mulher ocupava esta posição.
A luta pelo direito das mulheres é fundamental para Sahle-Work Zewde. “A falta de paz vitimiza primeiro as mulheres. Por isso, durante o meu mandato, vou enfatizar o papel das mulheres na garantia da paz e nos dividendos da paz para as mulheres”, disse no parlamento.
Sahle-Work Zewde assume a presidência após a renúncia de Mulatu Teshome, que ocupava o cargo desde 2003 e deveria permanecer até 2019. Designada pelas duas câmaras do parlamento da Etiópia, a responsabilidade de Zewde será sobretudo simbólica, no entanto de grande influência.
Esta nomeação surge num momento especial: a 16 de outubro, o primeiro-ministro Abiy Ahmed, no poder desde abril, aprovou uma reforma histórica, designando mulheres para metade do governo. Na opinião do primeiro-ministro, as mulheres “são menos corruptas do que os homens”.
Quanto a Sahle-Work Zewde, casada e mãe de dois filhos, garante que está apenas a cumprir o seu dever. Quando fez 25 anos de carreira, disse: “O serviço é minha paixão, especialmente quando sirvo um país e sirvo uma causa. Fui funcionária pública a minha vida inteira e o serviço público tem sido o núcleo da minha vida. Comecei a trabalhar no Ministério da Educação e cresci até à sua plenitude internacional. Estar em serviço é de facto a minha paixão.”