A poucos dias de mais uma edição do Chefs on Fire, evento gastronómico que arranca já na sexta-feira, 8 de setembro, na Fiartil, no Estoril — e que este ano, pela primeira vez, aposta em três dias de festival —, é difícil imaginar que um dos projetos com maior dimensão e notoriedade em Portugal no que diz respeito à gastronomia (e não só) tenha nascido a partir de um desenrasque.

"A história do Chefs on Fire começa com um evento familiar. Em 2018, a minha irmã pediu-me para cozinhar para uns amigos na casa dela no Alentejo, para o seu aniversário. É uma casa pequena, com uma cozinha igualmente pequena, e quando lhe liguei na semana anterior à festa para saber quantas pessoas eram, descobri que eram umas 60", recorda Gonçalo Castel-Branco, fundador do Chefs On Fire, em entrevista à MAGG.

Chefs on Fire. O Velho Eurico e Deixem o Pimba em Paz rumam até à Fiartil para o paraíso dos foodies
Chefs on Fire. O Velho Eurico e Deixem o Pimba em Paz rumam até à Fiartil para o paraíso dos foodies
Ver artigo

Ciente das dimensões da cozinha, Gonçalo acabou por pedir à irmã para fazer uma videochamada no exterior da casa e viu uma árvore que podia ser a solução para os seus problemas logísticos. "Fui mais cedo, fiz fogo de chão, pendurei uma data de coisas num dos ramos — barrigas de porco, borrego, frango, etc. E quando estava ali a tratar de tudo, ao nascer do sol, sozinho com a minha coluna a dar música, pensei que o cenário dava um festival. 'Isto com gente que saiba o que está a fazer é uma autêntica experiência sensorial', lembro-me de pensar."

Chefs on Fire
créditos: Luis Niza

Não demorou muito até Gonçalo Castel-Branco aplicar a ideia na primeira edição do Chefs on Fire, que aconteceu justamente em 2018, e com a mesma lógica que até hoje se mantém: comida de fogo feita por chefs, onde não há limites à imaginação e à dedicação que colocam em todas as propostas.

"A comida de fogo é um exercício de amor muito português. Demora tempo, exige carinho, mas a ideia de um festival com esta premissa fazia-me sentido. Uma coisa mais pequena do que os muitos festivais que acontecem anualmente em Portugal, mas com muita qualidade, com os melhores chefs do País, boa música", recorda o fundador e criador do conceito.

"A ideia de que tens de abdicar dos confortos para ouvir boa música não me faz sentido"

O Chefs on Fire não foi o primeiro festival gastronómico do País, mas é, sem dúvida, o evento que engloba dois conceitos que os portugueses gostam: comida e música.

"Até ao Chefs on Fire, existiam duas vertentes: por um lado, os festivais gastronómicos mais de nicho, mais limitados para as pessoas do meio, e do outro tinhas a típica feira do chouriço, coisas enormes para 300 pessoas, que são mais festivais de comida do que gastronómicos. Queria ter algo ali no meio, uma espécie de exercício intermédio, aberto ao público, com boa comida, boa música", diz Gonçalo Castel-Branco.

Porque, para o fundador do projeto, é possível aproveitar um festival na sua plenitude com tudo o que há de melhor. "Em Portugal, devemos fazer 300 festivais por ano, e nunca entendi porque é que tens de comer mal para ouvir boa música. A ideia de que tens de abdicar dos confortos não me faz sentido, tens de abdicar de comer e beber bem, de qualidade, de levar os miúdos. Parece que para teres um bom cartaz, tens de ter 50 mil pessoas à frente e uma cerveja morna na mão. Quis criar um festival que tivesse o melhor de tudo, que qualquer pessoa pudesse levar os filhos, por exemplo. Na génese, gosto de fazer coisas que eu gosto, onde eu gosto de ir, onde posso levar a minha família atrás."

Chefs on Fire
créditos: Luis Niza

A evolução do evento — que caminha para ser um dos mais importantes do Mundo

De 2018 para cá — e apenas com um ano de interrupção, em 2020 —, o evento cresceu, especializou-se e, hoje em dia, o Chefs on Fire é um marco incontornável para quem gosta de boa comida. Os melhores chefs do País não faltam à chamada, o cartaz musical cresce de qualidade de ano para ano e os ajustes vão sendo feitos a cada edição, a caminho de um evento perfeito, onde não há filas para casas de banho, copos espalhados no chão nem problemas com pagamentos.

"Quando trabalhas na fronteira da inovação, como nós, tens de estar confortável em acertar em 80% das coisas à primeira. Depois, vais evoluindo, vamos aprendendo. Atualmente, o Chefs on Fire é um festival maduro", diz Gonçalo Castel-Branco.

"É também um projeto que reflete os tempos. Depois da pandemia, voltámos a focar-nos nos chefs portugueses que estavam a passar um mau bocado. Também queremos ter mais mulheres a cozinhar, somos o festival que tem mais mulheres desde sempre. E claro, há uma preocupação com a sustentabilidade desde o primeiro dia. Aliás, este ano, temos dimensões de sustentabilidade a concretizar para ser o festival gastronómico mais sustentável da Europa. Somos plastic free a toda a escala, desde o produtor, somos cashless, replantamos todas as árvores que queimamos. Em suma, queremos fazer algo bom para todos os que nos visitam, com qualidade, mas que também não prejudique o planeta, queremos fazer algo de forma responsável."

Chefs on Fire
Chefs on Fire créditos: Luis Niza

Em 2023, para além dos três dias de duração, o evento recebe o Palco Espanha, com chefs espanhóis a cozinharem durante todo o festival, algo que levanta o véu (ou o vestido todo) para a internacionalização.

"Em 2024, seguimos para Espanha. Vamos manter sempre o Chefs on Fire regular em Portugal, as edições pop up por todo o País, mas vamos ter a primeira grande edição em Espanha. É muito interessante internacionalizar o conceito para ver como é que os chefs de vários países tratam a cozinha de fogo. Por exemplo, o barbecue argentino não tem nada que ver com o americano, que não tem nada que ver com o nosso e é giro ver essas diferenças", revela Gonçalo Castel-Branco. No entanto, até ao final deste ano, podem existir mais novidades, ainda em segredo — é ficar atento.

Chefs on Fire. Há mais novidades para a próxima edição e desta vez chegam de Espanha
Chefs on Fire. Há mais novidades para a próxima edição e desta vez chegam de Espanha
Ver artigo

O Chefs on Fire começa na sexta-feira, 8, e termina no domingo, 10 de setembro. Pode consultar o cartaz de chefs e música no site oficial, onde também pode comprar os últimos bilhetes: o passe para os três dias custa 200€ (15 doses de comida e 10 bebidas) e os bilhetes diários têm um custo de 75€ (5 doses de comida e 2 bebidas). O evento é adequado a crianças, sendo que entre os 6 e os 12 anos é necessário ser portador de bilhete criança por 20€ (com doses ilimitadas de comida na zona kids).

As portas do recinto abrem às 12 horas e fecham à meia-noite, e o evento decorre na Fiartil, no Estoril.