Quem entra no recinto do Chefs on Fire, olha para o pit central e vê André Cruz com as mãos na massa — ou melhor dizendo, na aba de vaca, a cortar carne e a colocar outras peças no fogo com uma mestria e rapidez onde nada falha —, não imagina que o chef do Feitoria tem uma direta em cima. "Estamos aqui desde a uma da manhã, de direta, a cozinhar esta peça para que todos os visitantes possam ver in loco o que estamos a fazer", revela à MAGG.

Aos comandos da cozinha do Feitoria, restaurante de alta cozinha do Altis Belém, em Lisboa, desde abril de 2022, esta é a quinta vez que o chef, que já conta com uma estrela Michelin no currículo, participa no Chefs on Fire — mas é uma estreia em nome próprio.

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"Enquanto chef convidado, sim, é a primeira vez, mas já é a quinta vez que participo, antes como assistente do chef, nas equipas", diz André Cruz. "É sempre bom estar aqui, é especial, porque estamos a falar de uma envolvência que todos os cozinheiros e chefs de cozinha gostam, cozinhar com o fogo, ao ar livre. E também estamos a falar de um cartaz muito bem composto, há aqui uma grande vertente que é conseguirmos estar a trabalhar, juntar amigos, juntar família. No meu caso, estou a trabalhar com amigos, com família, e apesar de estarmos num ambiente de trabalho, é ao mesmo tempo relaxado, consigo estar com eles, o que é muito bom."

Sobre as diferenças do que pratica na sua cozinha e a forma de trabalhar num evento como o Chefs on Fire, o chef do Feitoria não tem dúvidas sobre a beleza que é fugir ao habitual. "Passamos o tempo a trabalhar com tanta regra, com tanta dinâmica e método, e isto é bom para fugirmos um bocadinho ao que é o nosso dia a dia", salienta.

Chefs on Fire
Chefs on Fire

No que diz respeito à escolha do prato, André Cruz optou por uma aba de vaca assada, com arroz no infernillo, chimichurri e molho de chipotle. "Fazia todo o sentido trazer este processo de cozedura, esta peça. Pensei noutras coisas, mas não foi difícil depois concluir que tinha de ser esta aba de vaca feita de um modo lento, com lenha. Mas não é fácil executar: uma coisa é acharmos ou querermos fazer esta peça e usar este método de confeção, outra é executá-lo. É um desafio muito duro fisicamente."

"Gostava de ter a segunda estrela Michelin? Gostava. Vai ser possível? Temos de perguntar ao Guia"

Aos comandos da cozinha do Feitoria, restaurante reconhecido com uma estrela Michelin ao longo de 13 anos consecutivos, André Cruz desvenda um pouco do que aí vem. "Em termos de menu, tentamos sempre mudar a toda a hora para fugir ao dia a dia, para respeitar a sazonalidade dos produtos que nos chegam. Mas temos uma novidade boa em termos de mudança, ainda estamos a perceber ao certo o que é vamos fazer, mas será algo ao nível da renovação do espaço, o que é um bom mote para 2025."

E será que o próximo ano vai ser ainda mais estrelado? "Quando não temos [uma estrela Michelin], queremos sempre chegar à primeira. E quando já temos uma, é natural que pensemos no passo seguinte, em ter a segunda. Acho que é também a melhor maneira de criarmos consistência na primeira, ter o foco em cima e nunca em baixo", diz o chef, que não esconde o seu desejo em ter duas estrelas na lapela.

"Gostava de ter a segunda estrela Michelin? Gostava. Vai ser possível? Temos de perguntar ao Guia", diz num tom bem humorado.

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Para além de mostrar um lado diferente da sua cozinha, André Cruz acredita que eventos como o Chefs on Fire são ótimas oportunidades para quebrar um estereotipo do público em relação aos chefs.

"Deixemo-nos de rodeios: este tipo de eventos aproxima os chefs Michelin do público, quase que democratiza a imagem de um chef de cozinha. E acho que as pessoas acabam por olhar para o chef como uma pessoa normal, que cozinha com o fogo, que porventura nesta dinâmica de evento também se engana, também erra, também se queima, tem as as suas dúvidas. Acho que democratiza a nossa imagem e as pessoas conseguem olhar para nós como uma pessoa normal, que é assim que somos", conclui o chef do Feitoria.

Este domingo, 22 de setembro, a Fiartil, no Estoril, recebe o terceiro e último dia de Chefs on Fire. Catarina Nascimento, do 83 Gastrobar, Vítor Adão, do Plano, e Vitor Matos, do Antiqvvm são alguns dos chefs convidados, num dia que também conta com um concerto de Bárbara Tinoco, entre outros. Ainda há bilhetes à venda, com um custo de 90€ (5 doses de comida e 2 bebidas).