O Aura Dim Sum é um novo espaço que traz a comida cantonesa a Alfama. Especializado em "pedaços do coração" (a tradução de dim sum, em chinês), pequenas peças de massa recheadas com vários ingredientes, surge por várias paixões, uma delas a deste produto tradicional chinês.
Os responsáveis são Catarina Goya, 31, e Jose Luíz Suárez, 50, um casal que se conheceu há mais de uma década. Catarina é brasileira, mas aos 8 anos foi viver para as ilhas Canárias, onde conheceu o atual companheiro, natural de Madrid. Acabaram por se mudar para Londres, cidade na qual viveram cinco anos, e onde uma amiga os levou a um restaurante que mudaria tudo: era "um dos melhores de dim sum em Londres", explicou-nos a dona do Aura.
Catarina Goya estudou farmácia e teve profissões como babysitter e rececionista, mas acabaria por dedicar a vida a esta iguaria. O par ficou rendido quando a provou pela primeira vez no aniversário de Jose, graças à amiga e, desde então, a brasileira aprendeu tudo o que conseguiu sobre estes dumplings artesanais.
"Por coincidências da vida, eu estava procurando trabalho e me chamaram desse restaurante para trabalhar", disse-nos, tendo ficado por lá durante três anos. "Foi crescendo a obsessão por essa cozinha" e teve aulas particulares com um mestre. Insatisfeita, viajou até Singapura para aprender com a mestre do mestre, desta vez em chinês.
O casal viajou pela Ásia durante um ano e, finda a jornada, abriram um restaurante na Bahia, mas a afluência não foi a esperada. "Era muito de temporadas", referiu Catarina. O filho de Dominic, um cliente francês habitual, sugeriu mudarem-se para Portugal. E assim fizeram.
Esta recomendação revelou-se frutífera e resultou na abertura, em maio de 2021, de um espaço físico no Elevador da Bica. Começou um local para take-away, realização de pop-ups e eventos e, a pedido dos clientes, tornou-se restaurante, tendo apenas 16 lugares e cinco mesas. "Não era confortável", confessa a responsável.
O espaço não permitia alcançarem aquilo a que almejavam, pelo que, a 13 de julho, mudaram de morada para Alfama, desta vez para um local com 38 lugares. Abrir no número 88 da Rua das Escolas Gerais pode ter sido um presságio, já que o 8 é um número de grande sorte na China.
O elétrico 28 passa mesmo à porta deste espaço pequeno, mas acolhedor. A meio da refeição é comum ver-se uma mancha amarela e ouvirem-se os carris, um pormenor que exalta a magia da capital portuguesa. Outrora uma farmácia numa rua estreita, agora, graças à decoração, transporta-nos para o Oriente.
Com azulejos bordeaux, uma casa de banho com luz vermelha e um balcão com 11 lugares, é palco de um frenesim entre os funcionários prestáveis, que andam de um lado para o outro a garantir que todos são bem servidos. A cozinha está a olhos vistos e o vapor a sair das caixas circulares de madeira onde se fazem os baos é constante.
O bao é um pão chinês cozido a vapor, que leva inúmeros recheios. No Aura Dim Sum é mais uma das tentações presentes na ementa. Mas, antes de começar a comer, é obrigatório provar um cocktail da equipa "Living the Drink", composta por um casal que faz as bebidas asiáticas deste restaurante.
Provámos o Royal Crown Fizz, que contém gin, folhas de limão kaffir, fino sherry, limão e soda de melão verde. Custa 9,50€, bem como o mais forte, o buko pandan, com rum branco, pandan, matcha, coco torrado, fino sherry e limão. E para acompanhar o resto da refeição?
Pedimos uma coca-cola e deixámos o funcionário sem jeito, já que não há quaisquer refrigerantes. Terá de optar pelo chá gelado da semana (5€), por uma cerveja asiática (4€) ou até por um vinho verde, branco, rose ou tinto. O vinho da casa é Vale de Fornos (branco ou tinto) e a garrafa custa 16€.
A carta está dividida entre várias categorias: alimentos feitos a vapor (há seis opções e vêm três unidades); guo tie (há cinco opções e vêm cinco unidades), alimentos fritos (três opções de cinco unidades cada); chao shou, que são wontons picantes (quatro opções com quatro unidades); baozi (quatro opções de três unidades); delícias vietnamitas (dois pratos), saladas (duas opções) e sobremesas (três à escolha).
Este tipo de comida não é para os esquisitos. Há que prová-la de mente aberta, esperando uma mistura de sabores diferentes que chega a arrepiar as bochechas. Também as consistências são distintas daquelas a que estamos habituados e grande parte dos pratos têm picante (totalmente tolerável).
Nunca tínhamos provado nenhuma destas comidas. Desconhecíamos o mundo dos baos, dos dumplings e das gyozas. O cheiro que paira pelo restaurante estranha-se e depois entranha-se. Durante o jantar de imprensa no qual participámos, uma das jornalistas comparou-o ao cheiro de couves, e com razão.
A loiça é toda típica e muito caricata, desde a peça para pousar os pauzinhos às tigelas com colheres necessárias para certos pratos. Convém ter perícia, já que terá de manobrar toda a comida com os pauzinhos, desde noodles a sementes e passando por pequenos bolos. Na sua maioria, são escorregadios: um dos baos foi parar ao colo de uma jornalista, sujando-lhe o vestido.
Um dos nossos favoritos foi a salada de pato crocante, com mix de folhas, chalotas, pomelo, toranja, castanha de caju e romã (10,50€), muito agradável e doce. Também experimentámos a outra salada, a shrimp bún chá, com noodles de arroz, camarão caramelizado, pepino, chalotas, amendoim torrado, ervas frescas, molho nuoc cham e raiz de lótus frita (9,50€), cujos ingredientes combinam na perfeição.
Passaram também pela nossa boca o sea shumai, que é o dim sum tradicional e leva caranguejo, vieiras, camarão, gengibre e cebolinho (12,50€) e os lamb sticky rice pearls, com borrego, cogumelo shiitake, cenoura, gengibre e cebolinho (9,50€). Já o bao de frango e caril (com frango do campo, batata, caril e cebolinho, por 9,50€) parecia uma chamuça.
Ficámos a conhecer o wonton de porco, gengibre e cebolinho (8,50€), o lamb & pak choy, com borrego, pak choy e gengibre (9,50€) e o duck and shiitake mushrooms, com pato, cogumelos shiitake, castanhas de água e cebolinho (11€). Os dumplings de cogumelos (8,75€) surpreenderam-nos.
Levam cogumelo ostra rei, shimeji, cogumelo shiitake, chalotas e cebolinho e, no fundo, são bolinhas recheadas com cogumelos. Estes bolos fofos feitos de pão são muito macios. Ainda aproveitámos para comer os holy fish dumplings, com o peixe fresco do dia, coentros, gengibre e cebolinho (10,75€).
Para fechar o jantar, provámos as sobremesas chè chuoi, um pudim de tapioca com leite de coco, pandan, cardamomo e banana caramelizada (6,50€), cujo aspeto é o de uma papa com bolhas, e o gelado de sésamo preto caseiro (6€), surpreendentemente salgado, ao contrário do que se espera de um gelado. Para a próxima, passamos as sobremesas (e a balança agradece).
Atualmente, apenas servem jantares no Aura Dim Sum. Caso queira almoçar, tem de ser a um sábado. "É verão, as pessoas estão mais para a praia, de férias. A ideia é abrir para os almoços também, mas mais para o inverno", contou-nos Catarina Goya. O restaurante esteve sempre cheio enquanto lá estivemos e o movimento não abrandou.
Quanto aos acessos, a estação de metro mais próxima é a de Santa Apolónia, que implica uma subida brutal durante 20 minutos, que vai dispensar uma ida ao ginásio nesse dia. No entanto, deram-nos uma dica preciosa: se estacionar o carro no parque da Feira da Ladra não paga nada e fica bastante próximo.