Há quem diga que a realidade imitou a ficção, no entanto, em 2015, data de estreia da série cómica "Servo do Povo", o atual presidente da Ucrânia dificilmente preveria o que, sete anos depois, em 2022, teria de enfrentar. À data, vestia a pele de presidente apenas na ficção e utilizava o nome de Putin para sátiras políticas. Agora, enfrenta um conflito armado contra o chefe de estado da Rússia, que já se arrasta desde 24 de fevereiro.

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Ainda antes de ter qualquer cargo político como objetivo profissional, já Volodymyr Zelensky interpretava um professor de História (Vasily Goloborodko) que se tornava inesperadamente presidente da Ucrânia, depois de um dos seus alunos o ter filmado a criticar a corrupção no país.

A série cómica tornou-se um fenómeno na Ucrânia, em 2015, depois de estrear no canal 1+1 e de ter sido transmitida na Bielorrússia e até no canal russo TNT (com frases censuradas). E agora? Os 49 episódios de "Servo do Povo"  já estão disponíveis no catálogo da Netflix Portugal. Isto, desde esta quarta-feira, 18 de maio.

As duas primeiras temporadas têm 23 episódios cada, já a terceira tem apenas três. Se não sabe do que se trata (ou não conhece o tipo de humor que caracteriza a série), o trailer, disponível apenas com legendas em inglês, funciona como um bom lamiré do que pode esperar.

Em simultâneo, também esta quarta-feira, 18, o serviço de streaming juntou ao catálogo nacional "O Servo do Povo: O Filme", que se estreou em 2017 e que dá continuidade à série ucraniana.

O filme centra-se na aliança entre o presidente da Ucrânia e o antigo primeiro-ministro, que tem como objetivo "estabilizar a economia e gorar as maquinações de bastidores dos oligarcas gananciosos", avança a sinopse.

A corrida aos direitos de "Servo do Povo"

Já em março, em declarações citadas pela "Forbes Índia", Nicola Soderlund, cofundador da empresa Eccho Rights, detentora dos direitos audiovisuais da série de Zelensky, confessava que a pequena empresa em Estocolmo, na Suécia, estava "sobrecarregada". "Os pedidos chegam do mundo todo para exibir a série", disse.

O motivo? Segundo o executivo sueco,  existe "uma solidariedade com os ucranianos e a curiosidade para ver quem é Zelensky", que passou de ator a um símbolo da resistência contra à invasão da Rússia de Putin.

créditos: divulgação

Quatro anos depois da estreia da série, Zelensky assumiu a presidência da Ucrânia

Fora do ecrã, quatro anos depois da estreia da série cómica "Servo do Povo", a história repetiu-se. Sem vídeos virais na internet ou alunos à mistura, é certo, Zelensky acabou por se candidatar à presidência da Ucrânia justamente com um programa focado no combate à corrupção, na liderança de um partido chamado "Sluga naroda", título original da série.

Sendo que a estreia da terceira temporada da série coincidiu com a campanha eleitoral na vida real e foi aproveitada por Zelensky como mecanismo de propaganda, como explica o jornal "Observador".

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O atual presidente da Ucrânia foi protagonista de uma campanha política bem sucedida, embora polémica, alegadamente financiada por um oligarca ucraniano investigado por fraude nos EUA.

A campanha leve de Zelensky convenceu os eleitores de que o presidente que viam no ecrã a fazer piadas era mesmo o melhor para ocupar a chefia do país - a popularidade do ator teve reflexos também no número de votos que angariou. À data da eleição, com 41 anos de idade e, ficção à parte, zero de experiência política.

Logo na primeira volta, com 30% dos votos, vencia o, à data, presidente do país, Petro Poroshenko (com 18,5%). E afastava-se de Yulia Timoshenko (com 14%), antiga primeira-ministra, que cumpriu dois anos de uma pena de prisão de sete, por abuso de poder.. No entanto, só na segunda volta, a 21 de abril de 2019, a vitória foi confirmada e Zelensky tomou posse como presidente da Ucrânia a 3 de junho.

Na altura, chamaram-lhe "o Trump da Ucrânia" face à sua inexperiência política, mas a opinião do público foi mudando ao longo do tempo. Agora, muitos procuram perceber "quem é este louco que não foge", dada a forma como tem conduzido a resistência ucraniana contra à invasão de Putin.