Criada maioritariamente pelos pais e avós maternos numa quinta rodeada de animais, foi entre Alcochete e o Montijo que Inês Laranjeira decidiu o que queria fazer para o resto da vida. Depois de ter aulas de guitarra, canto e piano, inscreveu-se nos “Ídolos” de 2009/2010 e desde esse dia que nunca mais parou. Agora, sob o nome de Inês Monstro, a artista portuguesa lançou o seu primeiro álbum, “Brilho”, a 6 de outubro.

“Interessei-me pela música muito cedo, pelo teatro, pela dança. Foi algo muito natural, a minha mãe chegou a trabalhar em casa e ouvia muita música, especialmente jazz, e acho que ficou na memória, permaneceu comigo”, começa por dizer Inês Monstro, que revela que durante um tempo também quis experimentar sapateado.

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Com a mãe designer de moda e o pai arquiteto, Inês Laranjeira foi criada num ambiente de espetáculos. “Íamos ao cinema, ver museus, bailados, sempre fui muito criada dentro desse ramo. Houve uma altura em que a minha mãe trabalhava no Teatro da Garagem, então eu ia muitas vezes com ela ver os figurinos e perceber a construção de um espetáculo", refere. A paixão pelo palco começou desde muito nova, com a Inês de 13 anos a já saber o que queria fazer quando crescesse.

A cantora sempre teve a opção de escolher uma disciplina artística na escola, e o seu coração estava no teatro. “Os meus pais sempre me apoiaram na vida artística, desde miúda, nunca me cingiram a nada e foi muito bom ter essa liberdade criativa logo desde pequena para explorar os meus interesses”, diz.

E Inês Monstro teve a certeza, desde que se inscreveu nos "Ídolos", de que o seu sonho era estar em cima do palco. A estudar audiovisual na altura no secundário, foi numa tarde de verão que a artista viu a publicidade do programa e decidiu inscrever-se. “O 'Ídolos' para mim começou na minha infância, lembro-me perfeitamente da Luciana Abreu, e se eu já achava imensa piada àquilo quando era pequena, às artes que faziam que eu também gostava, pensei 'porque não' e decidi inscrever-me."

Com uma atitude sempre desportiva, Inês Laranjeira ficou em quarto lugar da 3.ª edição do programa “Ídolos” em Portugal, em 2010, que também deu a conhecer as vozes de Salvador Sobral e Carolina Torres. A artista contou que se apaixonou ainda mais pelo palco, sobretudo quando fizeram uma tour no País para dar a conhecer os finalistas. “Estar com a banda e ouvir os arranjos, ver todo o espetáculo, apaixonei-me imediatamente por aquela vida e pensei que podia fazer aquilo para sempre."

Quanto a abrir ou não caminhos para o sucesso, Inês Monstro admite que cada artista se descobre da maneira que conseguir. Apesar de ter demorado 13 anos para lançar o seu primeiro álbum, garante que nunca parou, mesmo que alguns tenham pensado que o sucesso não tivesse chegado depois do programa. “Nunca me fui embora, apenas estive a construir outras coisas”, diz.

No entanto, admite que é um dos maiores palcos que dá a possibilidade a um artista de se descobrir. “Acho que se és cantor e tens vontade de ir, vai. É importante cantar para as pessoas e viver essa adrenalina de estar em cima do palco. Temos de ser realistas e perceber que é a televisão, é um meio importante e entramos pela televisão das pessoas, fazemos parte da família."

Quando a tour acabou, Inês decidiu que, se era aquilo que queria fazer, tinha de mudar de curso. Parou os estudos no curso de audiovisual e escolheu teatro, depois de ter ficado bastante entusiasmada com o estar em cima do palco. Quando terminou, entrou na Escola Superior de Teatro e Cinema e começou o seu trabalho como atriz, onde em todos os espetáculos que fazia, cantava. “Sempre continuei a escrever, a ter vontade de fazer música, nunca houve uma paragem."

Em 2021, decidiu começar o processo de lançar o seu álbum. A primeira pessoa com quem falou foi Rita Onofre, que conheceu enquanto tirava o curso de teatro no secundário. O produtor musical Choro contribuiu para este trabalho — foi também colega de Rita Onofre e é amigo de Inês Monstro —, e juntos acompanharam-se durante estes anos de crescimento das suas carreiras. “Foi um processo muito longo. Se eu não tivesse trocado de curso no secundário nada disto tinha acontecido. Quando saiu a primeira música, 'Porque Te Quero', senti mesmo o momento de full circle”.

Agora, a artista lançou o seu mais recente single, “Sina”, que também incorpora a lista de músicas do seu primeiro álbum, “Brilho”. Para a cantora portuguesa, este novo single fala sobre como as pessoas carregam os seus fardos, as dores, os traumas de uma relação tóxica das suas vidas, e que fazem de tudo para tentarem voltar ao topo da montanha.

“É uma canção muito ácida, com um tom de hiperpop”, acredita. As oito músicas presentes no disco foram todas escritas consoante o que fazia sentido para a artista, pelo que não existe um estilo específico que possa ser ouvido no álbum.

“Tentei ao máximo não pensar muito, fiz o género que me apeteceu”, diz. Enquanto que “Sina” tem um tom, como referido, mais hiperpop, “P´ra Deixar Tua Calma” é mais rock e “Porque Te Quero” mais urbano, todas com fórmulas diferentes. “Como foi um álbum escrito em dois anos e meio houve tempo para deixar as canções maturarem, não se prendem a nada e mostra muitas cores minhas."

Mas Inês Monstro também se viu a ter pensamentos menos positivos, como o facto de ser mulher na indústria, o querer ou não ser mãe, o ter talento e ter outras ocupações. “Claro que penso que tenho 30 anos e que estou no início”, diz. Para a artista, é difícil sem mulher em qualquer indústria, e esta garante que o mais importante é “sermos fiéis a nós próprios”. A artista revela que tem uma base muito forte, com mulheres na sua vida que são mulheres, namoradas, mães, filhas, sem nunca deixarem de ser artistas.“É preciso continuarmos cá e unirmos forças”, acredita.

A artista acredita nas suas escolhas, no canto, no teatro e na dança, e um dia mais tarde, se quiser fazer, faz. “É preciso normalizar que ser artista não tem género”, e que todos irão ter as suas batalhas, quer queiram ser mães, pais, mulheres ou apenas e só artistas. “Tudo vem com o tempo certo”.

Agora, prepara-se para apresentar “Brilho” num espetáculo ao vivo, através das artes visuais. Colocando à prova os seus dotes enquanto licenciada em Teatro e Cinema, é na quinta-feira, dia 19 de outubro, às 22 horas, que a artista portuguesa irá apresentar um espetáculo sobre o novo e primeiro álbum, estando bastante entusiasmada com o que aí vem. “Está mesmo a ser pensado para a sala, tenho duas bailarinas comigo e duas guitarras. Temos pensado na ideia de espetáculo, e perceber como se traduz o que é áudio para algo visual está a ser muito interessante."

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O espetáculo, que viverá com base na dança e no movimento, com alguns pózinhos de teatro, será apresentado no MusicBox, em Lisboa, com a entrada num valor de 10€. “É inevitável eu não trazer o teatro para cima do palco quando eu tantos anos me debrucei sobre o que é um espetáculo. Pensei nas luzes, som, figurinos… O espetáculo não começa só quando eu começo a cantar. Estou muito entusiasmada”. A direção musical estará ao encargo de Choro e a coreografia de Sasha Costa.

Quanto a perspectivas para o futuro, Inês Monstro tenta gerir as suas expectativas para saborear todas as conquistas. Agora, o que lhe interessa é fazer um bom espetáculo no MusicBox, e dar a conhecer a todos as suas canções. Ser artista internacional está nos planos, mas não pensa muito nisso neste momento. “O objetivo é continuar e colaborar com mais artistas, nunca parar e nunca parar de acreditar na transformação e na mudança."

E ser artista foi o que Inês Monstro sempre quis. Com planos que podem ter falhado e expectativas moderadas, a cantora portuguesa lança-se mais uma vez no mundo da música para fazer aquilo que mais gosta: subir ao palco. Quanto a competições, é o que menos interessa. É artista, ponto. “A praia é grande para todos."

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