É um dos maiores debates no que diz respeito ao meio escolar. Afinal, o uso de telemóveis por crianças do 1.º e 2.º ciclo nas instituições de ensino tem vantagens (nomeadamente, a segurança que dá aos pais por conseguirem contactar os filhos) ou apenas contrariedades (desatenção, vício e perigos das redes sociais, comparação com pares)?

A presença destes aparelhos nas escolas pode ter os dias contados, dado que o Ministério da Educação, Ciência e Inovação fez saber esta quarta-feira, 11 de setembro, que recomenda a proibição dos telemóveis nos 1.º e 2.º ciclos.

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Tratam-se de medidas de adesão voluntária por parte das instituições escolares, mas o impacto será avaliado ao longo do próximo ano letivo, que arrancou justamente em muitas escolas do País esta quarta-feira. Assim, o executivo não nega que estas recomendações possam evoluir para uma proibição do uso de smartphones em contexto escolar, em função dos resultados, refere o "Diário de Notícias".

Fernando Alexandre, ministro da Educação, Ciência e Inovação, avançou ainda que para além da recomendação desta proibição, o ministério salienta também a importância de restrições ao uso dos telefones nos alunos do 3.º ciclo.

"O que iremos fazer durante o próximo ano letivo é garantir que há condições dentro da escola para que essa recomendação possa ser executada", disse o ministro, referindo também que o ministério vai publicar guiões para as escolas e famílias.

Estão previstas exceções para os alunos com "muito baixo domínio da língua portuguesa", para que os telemóveis possam servir como instrumento de tradução, ou para aqueles que "beneficiem comprovadamente de funcionalidades do smartphone por razões de saúde", acrescentou Fernando Alexandre, tal como escreve o "DN".

"Hoje, temos muita evidência de que a utilização de smartphones pode ser uma desvantagem para as aprendizagens e temos também muita evidência de que, em determinadas idades, pode deteriorar o bem-estar das crianças", referiu Fernando Alexandre.

Até agora, eram as escolas as únicas responsáveis por definir regras para o uso de telemóveis, de acordo com os seus regulamentos internos, e segundo dados do Ministério da Educação, Ciência e Inovação, apenas cerca de 2% dos agrupamentos restringiram ou proibiram a utilização no espaço escolar no ano letivo passado, escreve o mesmo jornal.

Proibir os telemóveis pode acabar com o bullying digital?

É verdade que há pais que encontram nos telemóveis uma forma de controlar ou ter acesso mais rápido a crianças mais jovens. Neste artigo da MAGG, a psicóloga Marta Calado, da Clínica da Mente, referia essa mesma "fórmula". “Há pais e mães que não ficam descansados com as informações dos auxiliares, por exemplo, e preferem sempre falar diretamente com as crianças, perguntar o que foi o almoço, se está tudo bem”, referia a especialista.

“Atendo miúdos muito pequenos com cerca de 6 e 7 anos, e que já têm telemóvel, mas também tenho pacientes com 16 anos que ou ainda não têm um aparelho deste género ou não ligam nada ao mesmo, esquecem-se dele em casa e nunca o põem a carregar."

No entanto, para além de fatores óbvios como a desatenção nas aulas ou o vício nas redes sociais, o que contribui para menos interação com os pares nos recreios e momentos lúdicos nas escolas, há outro fator para o qual os telefones contribuem de forma negativa: o bullying digital, que chega ao seu exponente máximo com os grupos de ódio em aplicações como o WhatsApp ou outras semelhantes.

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Será que a solução passa por proibir a utilização dos telefones em recinto escolar — e não apenas nas aulas —, foi a pergunta que lançámos nesta reportagem.

“Sim e não, digamos que é um ‘um pau de dois bicos’”, salientou Ana Branquinho, professora. “É verdade que se a utilização fosse proibida a 100% nas escolas, o bullying digital cessava em recinto escolar, e até podia fazer com que o foco de atenção durante o período em que não tivessem acesso aos telemóveis fosse outro, permitindo um relacionamento mais próximo com os colega e o distanciamento dos ataques virtuais. Se pensarmos dessa forma, sim, podia ser benéfico.”

Filipa Jardim da Silva, psicóloga clínica, também concorda que pode existir um lado bom numa proibição mais radical, tal como aquela que vai ser avaliada no ano lectivo de 24/25. “Acredito que uma medida desta natureza pode limitar o bullying digital, embora naturalmente não o consiga extinguir. Limita na medida em que as crianças e jovens estão muitas horas por dia nas escolas”, referia a especialista. "Se nesse largo intervalo de tempo os jovens forem convidados a conviverem uns com os outros sem tecnologia presente de forma permanente, isso naturalmente que impacta no tipo de uso que fazem dos telemóveis, e pode contribuir para uma quebra de hábito, ou pelo menos de utilização compulsiva destes equipamentos."