Quando, diariamente, lemos os comentários, nas redes sociais, de diversas publicações ou a artigos publicados, verificamos facilmente duas realidades: primeiro, a falta de capacidade de interpretação da língua portuguesa; segundo, a falta de empatia para com o outro, associada a um ressabiamento provocado por frustrações pessoais. Ambas as situações são lamentáveis e devem ser, na medida do possível, combatidas.

5 perguntas e respostas sobre crianças e redes sociais. Estarão os pais a dar um bom exemplo?
5 perguntas e respostas sobre crianças e redes sociais. Estarão os pais a dar um bom exemplo?
Ver artigo

Pergunto-me: se as pessoas não têm nada de construtivo ou pertinente a transmitir aos demais, por que razão se dão ao trabalho de perder o seu (julgo) precioso tempo a comentar publicações? O mais extraordinário é que, quando se trata de um artigo escrito ou de um vídeo, se torna perfeitamente notório que muitos desses comentários são tecidos por pessoas que nem leram o artigo ou viram o vídeo na integra, ou seja, tratam-se de comentários provenientes de indivíduos desinformados.

Outra questão que pode surgir prende-se com a necessidade que várias pessoas têm de, quando redigem um comentário negativo, recorrerem a linguagem insultuosa ou a opinarem sobre o autor dessa publicação ou artigo sem nada conhecerem acerca do mesmo, frequentemente atacando-o de forma gratuita.

Acredito que a educação possa desempenhar um papel fundamental no combate a esta realidade tão característica nos dias de hoje devido à proliferação das redes sociais. Na verdade, na educação que temos hoje, em termos institucionais, prevalece a importância da aprendizagem de conteúdos (ainda que, evidentemente, muito importante), mas com uma clara falta de abordagem dos valores e da importância da empatia para com o próximo. Vivemos, de facto, uma era cada vez mais individualista, em que se denota menos empatia para com os outros ou, pelo menos, em que a insensibilidade se encontra menos velada, devido ao conforto do anonimato que as redes proporcionam.

De facto, julgo crucial que o tempo letivo seja também dedicado ao tratamento de questões relativas aos valores que pretendemos que as nossas crianças e jovens preconizem no futuro. A literatura pode ser uma das chaves para que esta empreitada siga um rumo firme, mas também são questões a serem trabalhadas de forma real e efetiva na disciplina de cidadania, de forma geral muito mal aproveitada em contexto escolar.

Por outro lado, esta educação para a empatia tem de começar em casa. Como sabemos, as crianças funcionam muito em termos de mimese e, certamente, imitarão o comportamento que os pais possam demonstrar para com os outros ou a linguagem utilizada. Como pais, ou outros responsáveis pela educação dos jovens, temos o dever de neles despertar a sensibilidade e a capacidade de se colocarem na pele de outras pessoas, entendendo que todos temos direito a uma opinião, desde que exposta de forma educada, com argumentos válidos e, acima de tudo, com respeito.

Acrescento ainda o quão determinante considero que seja a nossa capacidade de lutarmos pelos nossos objetivos pessoais e por sermos felizes, para que nunca caiamos na tentação falaciosa de encarar a felicidade ou o sucesso dos outros como uma afronta à nossa própria frustração. Ter sucesso exige, na maior parte das vezes, muito trabalho. E garanto que tal não se consegue com lamúrias ou veneno destilado nas redes sociais.

A vida é curta demais para perdermos tempo com aquilo que não tem a mínima importância. Sejamos mais empáticos e promovamos uma educação que fomente a empatia das gerações futuras.

Ana Catarina Mesquita é docente do ensino superior, investigadora e apaixonada por educação e cultura