Dormir com tampões faz mal, comer abacaxi melhora o sexo oral e os pensos diários também são prejudiciais: mitos ou verdades?Estas ideias pré-concebidas passam de geração em geração e, às tantas, meia dúzia de mentiras são reconhecidas como verdades incontestáveis.
Melhor do que especular é falar com quem percebe do assunto e a MAGG recorreu à ginecologista Irina Ramilo, também conhecida como "A Ginecologista da Melhor Amiga", para desmistificar questões associadas à saúde íntima feminina.
Da roupa interior aos pensos diários, saiba o que é verdade e mentira.
1. Dormir com (ou sem) roupa interior
"Devo dormir com ou sem roupa interior?". Para Irina Ramilo, a questão é relativa e cada um sabe, melhor do que ninguém, de que forma se sente mais confortável.
No entanto, confirma-se: o melhor é mesmo dormir sem nada. A ginecologista explica que dormir sem roupa interior melhora a flora e micro flora vaginal, sendo que "não estamos a abafar a vagina com qualquer tipo de tecido".
Irina Ramilo faz questão de esclarecer que nem toda a gente tem de se sentir confortável desta forma. "Há quem durma sempre com roupa interior e também está tudo bem", explica. O segredo está na escolha dos materiais.
Se não se sentir à vontade para passar a noite ao natural, o ideal é optar por roupa interior de algodão, já que se trata de um tecido poroso, que permite a respiração da vagina. Por isso, a lingerie de renda pode ser ideal para certas ocasiões, mas para dormir não é a melhor opção, tendo em conta que os tecidos extensíveis ou sintéticos, como a fibra ou a renda, não são aconselhados.
De acordo com a especialista, muitas mulheres não se sentem confortáveis em dormir sem roupa porque têm corrimento e não gostam de se sentir molhadas. “Há mulheres que não têm fluxo, de todo. No entanto, também há mulheres que têm corrimento normal, que não está infetado, e é perfeitamente normal. É uma lubrificação natural."
No entanto, se criar o hábito de dormir sem roupa esta situação pode melhorar. O que não deve fazer é recorrer a pensos diários para contornar o desconforto.
2. O perigo dos pensos diários
"Os pensos diários absorvem o fluxo e mantêm a vagina sempre húmida. Desta forma, criam um ambiente propício ao desenvolvimento de microrganismos. Depois, deparamo-nos com infeções como a candidíase, por exemplo, associadas a uma humidade persistente", avança Irina Ramilo.
"Naturalmente, a mulher que está habituada a usar o penso diário sente-se mais molhada quando deixa de o usar, mas é uma questão de hábito. Aconselho sempre a que, nesses casos, troque de roupa interior", completa a especialista.
2. Andar sem sutiã pode trazer problemas?
Para Irina Ramilo, tudo se resume ao conforto, geralmente associado ao volume da mama da mulher. "Se não tiver uma mama muito volumosa, que tenha tendência a pender, e se a mulher não necessitar de um suporte para ajudar em termos de postura e coluna, pode perfeitamente optar por não usar sutiã", diz.
Por outro lado, segundo a especialista, não há qualquer estudo que suporte a teoria de que os tecidos à volta da mama se tornam mais frágeis pelo uso constante de um sutiã.
Irina Ramilo defende que cada caso é um caso, e que existem situações em que o uso do sutiã pode prevenir repercussões – como em mulheres com mamas muito volumosas, em que este tipo de suporte é recomendado para evitar consequências ao nível da coluna –, mas há outros em que o uso (ou não) de sutiã é indiferente. Portanto, a sua utilização fica à mercê do gosto e conforto da mulher.
3. Afinal, posso dormir com tampão?
"O tampão não sabe se estamos acordados ou se estamos a dormir, portanto, é igual", explica Irina Ramilo. "A única premissa é: não devemos manter o mesmo tampão mais de oito horas dentro do nosso corpo. Por isso, se dormirmos mais de 8 horas, podemos aumentar o risco infeccioso do tampão colocado", diz.
Logo, o problema não está em dormir com o tampão, mas, sim, no período de tempo que o tampão permanece dentro do corpo da mulher – que nunca deve exceder as oito horas, seja durante o dia ou à noite.
Independentemente do método utilizado, seja um tampão, um penso higiénico ou um copo menstrual, os hábitos de higiene corretos podem ser a chave para evitar infeções. Principalmente para as mulheres que recorrem ao copo menstrual, a esterilização dos copos entre os ciclos é indispensável, bem como a lavagem diária, durante o período em que a mulher está a menstruar.
Corrimento, dores ou febre associados à colocação de um tampão, penso higiénico ou copo menstrual podem ser sintomas de síndrome do choque tóxico.
4. O abacaxi é o segredo para sexo oral de sonho?
Se não reconhece a associação entre abacaxi e o (alegado) sexo oral de sonho, passamos a explicar. Circula online, essencialmente no TikTok, a ideia de que comer abacaxi pode proporcionar uma melhor experiência sexual ao parceiro ou à parceira durante o sexo oral, por alegadamente alterar o "sabor" do fluxo vaginal. Afinal, o abacaxi é mesmo o segredo para sexo oral de sonho?
"Tudo o que entra influencia o que sai", remata Irina Ramilo. "Ou seja, tudo o que ingerimos acaba por influenciar o ph natural do corpo. É por isso que, quando estamos a amamentar, por exemplo, e ingerimos coisas mais ácidas, o nosso leite acaba por se tornar também mais ácido. É natural que aquilo que ingerimos possa influenciar o corrimento vaginal. Se comermos coisas mais ácidas, o que 'sai de nós' também vai ser mais ácido", completa.
A especialista deixa claro que não tem conhecimento de que algum alimento específico altere drasticamente o corrimento vaginal. O abacaxi, por exemplo, é reconhecido como um dos produtos que alegadamente influencia o fluxo vaginal e personifica a chave para uma melhor experiência sexual durante o sexo oral.
Face a esta especulação, que se tornou viral no TikTok, Irina Ramilo explica que os produtos com coloração e substâncias mais ativas podem naturalmente alterar a configuração do corrimento da mulher.
"Tal como acontece com a ingestão de certos alimentos durante a amamentação, que se refletem no teor do leite, mais ou menos ácido, o abacaxi tem a parte ácida e parte doce e, por isso, pode efetivamente alterar o ph do corrimento", acrescenta. "O melão, por exemplo, é um alimento que, pelo doce que tem, tende a alterar uma série de coisas."
Segundo Irina Ramilo, o que importa é perceber que tudo o que consumimos acaba por, direta ou indiretamente, influenciar os fluídos naturais do corpo. Em vez de esgotar o stock de abacaxi, o ideal é dar prioridade a uma alimentação equilibrada e saudável.
*Texto originalmente publicado em 2021 e adaptado a 1 de novembro de 2022.