O período de confinamento foi dominado por sentimentos de medo, ansiedade e incerteza, e mesmo quando tivemos liberdade para voltar às esplanadas, ou à praia, o vírus continuava a pairar na cabeça — talvez bem mais do que no ar — e a agudizar receios. No entanto, ansiosos, lá fomos nós enfrentando os medos com toda a cautela, mas nem todos reagimos da mesma forma. As fobias, que são mais do que um grito perante uma aranha minúscula, estão a ganhar força nos dias que correm e não dizem respeito a um simples medo.

"O medo é um sentimento funcional, uma emoção básica. Precisamos de ter medo para saber fugir dos perigos e saber proteger-nos, é perfeitamente normal. Quando o medo é exacerbado e está impregnado de um perigo que não existe, pode ser espoletada uma fobia", explica à MAGG a hipnoterapeuta Rosa Basto, que conhece as ferramentas necessárias para que "Comece a Viver Agora", tal como o nome do seu mais recente livro (PVP 15,50€), e não se deixe assolar pela pandemia de COVID-19, sem que sintomas mais graves próprios do vírus o façam.

Rosa Basto
créditos: divulgação

Apesar de serem coisas diferentes, a ansiedade, o medo e a fobia estão em tudo ligados, uma vez que é a ansiedade que faz espoletar várias perturbações, nomeadamente as fobias, que já não são coisa nova. "Muitas das vezes estamos a passar por uma fase mais traumatizante, preocupante, ou até de maior stress, e deslocamos essa emoção para um objeto ou situação, para um animal, um elevador ou outro qualquer objeto que passa a ser um estímulo fóbico", refere a especialista.

A ansiedade é normal e funcional, mas passa a ser patológica e disfuncional quando o medo é de tal maneira intenso que faz com que haja medo de tudo e de todos, acrescenta a hipnoterapeuta, que já trabalhou casos de ansiedade de figuras conhecidas como a apresentadora Fátima Lopes, Claúdio Ramos, Nuno Eiró, e Liliana Campos.

António Raminhos fala sobre ansiedade. "Não há vergonha nenhuma em pedir ajuda"
António Raminhos fala sobre ansiedade. "Não há vergonha nenhuma em pedir ajuda"
Ver artigo

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) há cerca de 400 milhões de pessoas com algum tipo de fobia e estas — que se dividem entre fobia específica (medo intenso e persistente de um objeto ou situação), fobia social (medo de situações em que possa ocorrer embaraço e humilhação), e agorafobia (evitar situações em que seria difícil obter ajuda) — podem ir desde a tão conhecida claustrofobia, medo de estar em espaços fechados, à amaxofobia que se traduz no medo de conduzir veículos.

Entre as mais comuns está então a claustrofobia, fobia de andar de elevador ou de avião, fobia a animais específicos, de andar nas autoestradas ou pontes, de palhaços, agulhas e hospitais, "e ultimamente têm aparecido muita gente com fobia a balões", conta Rosa Basto. Contudo, pode surgir um novo padrão.

Quais as fobias mais prováveis de aumentar no pós-confinamento?

Se por um lado é frequente (e até irritante) vermos pessoas com a máscara abaixo do nariz, tapando apenas a boca, por outro, ver alguém a esfregar as mãos hoje em dia é sinal de que acabaram de colocar álcool gel e não creme, como seria mais provável antigamente. Este movimento transmite-nos segurança, proteção, mas aquilo que não vemos é o que pode ir na cabeça daquela pessoa.

Neste período de desconfinamento, a perturbação obsessivo-compulsiva, que pertence aos quadros de ansiedade, pode aumentar o número de casos, ou ganhar outras proporções em quem já sofria dessa condição, principalmente quando relacionada com limpeza.

"Agora com o desconfinamento isso pode agudizar e as pessoas que não tinham podem adquirir, e para além da perturbação obsessivo-compulsiva da limpeza, podem também ter como comorbidade [patologia independente e adicional a uma outra existente] a agorafobia", indica a especialista.

A agorafobia é, no fundo, o medo de ter medo e no contexto de desconfinamento representa uma perturbação mais grave relativa ao medo de enfrentar novamente o espaço lá fora, incluindo espaços grandes, abertos, e com muita gente. "A hipocondria também é uma perturbação que tem tendência a aumentar porque, efetivamente, as pessoas têm medo de ganhar doenças e ficam ansiosas por considerarem que podem estar contaminadas e doentes", nota a hipnoterapeuta Rosa Basto.

Contudo, a "tendência" não fica por aqui. "Existe um medo que é muito confundido com a agorafobia, que é a síndrome da cabana, que se manifesta em pessoas que ficam isoladas, confinadas durante algum tempo", revela a especialista. Destaca, no entanto, que esta síndrome não é considerada uma perturbação, mas sim um estado legitimo e compreendido, uma vez que quando a pessoa tem de enfrentar de novo a sociedade, tem algum constrangimento.

Prevenir o desenvolvimento de uma fobia não é tarefa fácil, mas é possível através de exercícios mentais para que a pessoa se possa sentir bem e em equilíbrio. No livro, Rosa Basto revela vários exercícios para identificar sintomas, a origem da ansiedade e a libertá-la, e às vezes podem ser coisas tão simples do dia a dia como ter um hobbie.

"Fazer meditação e ioga também são estratégias com um impacto muito positivo, e ter um terapeuta que acompanha a gestão emocional na prevenção, tudo isto são estratégias muito inteligentes na prevenção. Quando a pessoa já está num quadro de ansiedade bastante avançado, nesse caso precisa realmente da ajuda de um profissional competente para o efeito", destaca a especialista.

COVID-19. Meditar pode ajudá-lo a diminuir ansiedade de estar fechado em casa — este vídeo ensina-o a fazê-lo
COVID-19. Meditar pode ajudá-lo a diminuir ansiedade de estar fechado em casa — este vídeo ensina-o a fazê-lo
Ver artigo

Uma vez que as fobias só acontecem perante quadros agravados de ansiedade, procurar estar em equilíbrio emocional e físico é meio caminho andado para a prevenção de problemas do foro emocional e psicológico, como as fobias. O livro de Rosa Basto chama-se "Comece a Viver Agora" precisamente porque se a pessoa "viver um dia de cada vez, um momento de cada vez e a viver o presente, as fobias não aparecem", diz.

A informação é outra das chaves para evitar que se desenvolvam perturbações nos tempos que correm. Sabemos o que fazer para sair à rua protegidos — usar máscara, não tocar na cara, manter o distanciamento social e a higiene das mãos —, por isso, ao estarmos conscientes das regras e da forma como agimos, tudo estará mais controlado.

Sintomas

Entre os sintomas mais frequentes de uma fobia, medo exagerado em relação a um objeto ou situação, estão palpitações, suores, taquicardia, medo de morrer e muitas vezes também ataques de pânico. Contudo, cada caso é um caso e não deve ver estes sintomas como uma lista que encontrou no motor de busca e eis que tem o diagnóstico, mas sim como um alerta. Consultar um especialista é fundamental, até porque só assim vai perceber a causa.

"A origem de uma fobia é um deslocamento emocional. Algures no tempo a pessoa passou por alguma situação que lhe causou muito medo ou, até quem sabe, trauma. O que pode acontecer no contexto de pandemia é que esse deslocamento, que foi feito outrora no tempo, volte ao de cima", explica a hipnoterapeuta.

O tempo é relativo, porque parece que foi ontem que nos disseram que tínhamos de ficar em casa, mas pode ter sido nesse período que as fobias do pós-confinamento tiveram a sua causa. Entre elas está o facto de acompanhar as notícias de forma intensiva, ter medo do futuro, e ainda receio de ficar sem meios para subsistência.

Ferramentas para lidar com uma fobia

A certa altura, num podcast, ouvimos que para enfrentar um medo ou um ataque de pânico, cantar a música dos parabéns — sim, parece estranho — com o objetivo de ironizar o medo e ajudar a controlar esse estado de ansiedade exacerbado. No entanto, Rosa Basto não considera que seja a melhor ferramenta.

"Acho sempre que fugir do medo aumenta-o, pois quando fugimos de algo fica subentendido que estamos a fazê-lo por se tratar de algo perigoso. Então, brincar com o próprio medo e enfrentá-lo é sempre a forma de o minimizar, pois só brincamos quando estamos confortáveis, não é? E o nosso cérebro responde 'positivamente' a isso", argumenta, por acreditar que é mais importante estarmos em equilíbrio emocional, confiantes e seguros de nós.

Defende por isso que o melhor exercício e o mais simples é aprender a fazer uma boa respiração, técnica fundamental para estar em equilíbrio e enfrentar qualquer desafio.

Existe tratamento para as fobias?

Existe e é até o quadro de ansiedade mais simples de tratar, de acordo com a especialista. A fobia específica (medo de um objeto ou situação, como andar de elevador) é até a mais fácil, mas a agorafobia, um dos ramos das fobias que pode aumentar com o desconfinamento, não fica de fora e também pode ser tratada.

Uma das formas, defendida pela e no livro de Rosa Basto, é através do Protocolo Diamante. Este é um método desenvolvido pela hipnoterapeuta e consiste numa terapia complementar que aplica várias técnicas, tais como a hipnose clínica, programação neurolinguística, e na sua aplicação de modo personalizado em cada indivíduo. "Tem o propósito de ir à origem do problema, libertando toda a carga emocional lá contida. Fazendo isso, a pessoa fica mais liberta, mais solta e mais preparada para ter uma vida ajustada para aquilo que ela quer para si mesma", explica Rosa Basto.