Há mais pessoas sensíveis ao frio, isto não é novidade nenhuma. Andam por casa com três pares de meias calçadas, com um cachecol em torno do pescoço e de gorro na cabeça. Por cima disto, ainda têm o aquecedor ligado, a consumir energia e a fazer crescer a conta do gás. Mas e se não fosse assim? Será que o ser humano pode ser treinado para não ser tão friorento?
É aí que está a novidade: pode — mas vai custar. De acordo com o que Christopher Minson, professor de fisiologia humana na Universidade de Oregon, disse ao jornal inglês "The Guardian", "as pessoas podem adaptar-se progressivamente a temperaturas mais baixas", só que estão preguiçosas. Isto porque estamos constantemente numa bolha de conforto quentinha: no trabalho estão quentinhas, no carro estão quentinhas, em casa (algumas, não todas) estão quentinhas.
"Não estamos a exercitar os mecanismos que usamos para nos aquecer, e a nossa percepção de temperaturas aceitáveis tornou-se artificialmente pequena", diz, acrescentando que aquilo que nos permite adaptar a diferentes níveis de frio e de calor é a nossa taxa metabólica. Só que, claro, não somos todos iguais. Por isso, para algumas pessoas este processo é mais fácil do que para outras.
A massa muscular é fundamental, porque aumenta a taxa metabólica basal. Ou seja, quanto mais músculo houver, maior será a capacidade do corpo em queimar a energia dos alimentos e utilizá-la noutros processos do organismo. Por isso é que os homens, em princípio, terão mais facilidade em aquecer-se sozinhos do que as mulheres.
Mas há mais fatores que fazem com que haja pessoas mais friorentas do que outras. A idade é um deles: quanto mais velhos somos, mais lento é o nosso organismo e menor será a nossa taxa metabólica.
Agora, como treinar o corpo para que ele se adapte mais facilmente ao frio? Christopher Minson testou-se a si próprio. Primeiro, retirou camadas de roupa para andar de bicicleta, ao ponto de andar de T-shirt no inverno. Primeiro sofreu e depois habituou-se.
Também na rotina de duche fez alterações, com rajadas de água fria, cujos tempos foram aumentando gradualmente — começou com 15 segundos, depois aumentou para 30, indo até um minuto. "Nos primeiros tempos é miserável [o duche de água gelada], mas adaptamo-nos. Depois de um mês ou dois, comecei a descobrir que, quando estava em ambientes frios, sentia menos frio.”
Minson explica que esta habituação tem que ver com as alterações à nossa percepção de ameaça de frio. "Os termorreceptores na pele dizem ao cérebro que isso [o frio] não é uma ameaça — que vai ficar tudo bem."
Ao mesmo tempo que, com a habituação, o corpo deixa de encarar o frio como uma ameaça, ele passa também a aquecer-se autonomamente de forma mais eficaz. E isto tem que ver, novamente, com um possível e consequente aumento da taxa metabólica e melhoria do processo de contração e dilatação dos vasos sanguíneos, que, com as diferenças de temperatura, passam também a ser mais exercitados.
Mas há formas menos dolorosas para se adaptar melhor ao frio: não ter uma vida tão sedentária e praticar e exercício físico antes de ir para o trabalho. De acordo com Minson, o treino é capaz de nos manter mais quentes nas duas horas que o sucedem — ao mesmo tempo que também aumenta a taxa metabólica basal que, como já vimos, a longo prazo desempenha um papel fundamental nos processos termoreguladores do corpo.
Também os alimentos podem ajudar a manter o corpo mais quente. Tem tudo que ver com o efeito termoregulador dos alimentos e com o esforço no processo de digestão: "As gorduras e proteínas, em particular, geram mais calor", diz o professor. Já os açúcares simples são tão facilmente digeríveis que não acarretam nenhum esforço extra ao corpo — logo, também não o aquecem.