O verão é tempo de parar, mas também de aproveitar aquilo para que nunca temos muito tempo: explorar a natureza do nosso País. E temos tantos rios, cascatas e zonas pedestres para percorrer, que metemo-nos só ao caminho numa ânsia imensa de conhecer tudo. Todavia, quem não é tão experiente, deve ter alguns cuidados antes de ir.
É que caminhar em zonas húmidas, como junto a rios, ribeiras ou linhas de água, pode colocar-nos num perigo que não compensa o objetivo da partida: reconhecer a diversidade da fauna e flora e ver paisagens impressionantes.
"Deve-se caminhar com muito cuidado e nunca confiar no calçado", alerta Pedro Vila Nova, monitor certificado em desporto de aventura, da Nature Lousã.
Especializado em percursos pedestres, montanhismo e canyoning, Pedro sabe bem que as aventuras têm os seus riscos, mas também como podem ser evitados. Um dos locais da natureza que mais pessoas atrai são as cascatas, que, por serem zonas húmidas, podem ser traiçoeiras.
"As cascatas são sempre zonas muito húmidas por causa dos salpicos, levando à criação de limos [algas] e musgos, o que aliado ao polimento das pedras, tornam-se zonas muito escorregadias e perigosas", refere.
Falamos em caminhadas em zonas húmidas numa altura do ano em que o País depara-se com a "seca mais grave deste século", como classificou o ministro do Ambiente e da Ação Climática, Duarte Cordeiro, de acordo com a TSF, no entanto, em cascatas, zonas de rio ou praias fluviais, todos os cuidados continuam a ser poucos e, como tal, Pedro Vila Nova, assim como Pedro Mendes, responsável pela Hiking Around Adventures, revelaram à MAGG conselhos para umas férias seguras a explorar a natureza.
O que levar e não levar
Quando passamos quase um dia fora, temos tendência a levar o que chamamos de "a casa às costas". Só que isso não é o ideal para percorrer trilhos junto aos rios, por isso, basta o essencial, do qual faz parte uma garrafa de 1,5 litros de água, recomenda Pedro Mendes da Hiking Around Adventures, assim como uns ténis de substituição, aconselha Pedro Vila Nova da Nature Lousã, empresa que leva os caminhantes a conhecer a serra da região.
"Prever calçado seco para trocar no final do passeio. Não ficar com as botas ou meias molhadas, calçadas mais do que o tempo necessário, para evitar a criação de 'cozeduras' ou fungos nos pés", explica.
O calçado a levar neste tipo de caminhadas é um dos fatores mais importantes de segurança e a escolha do mesmo vai depender do sítio para onde vamos.
"Nas aproximações às cascatas, devemos tentar caminhar sempre que possível pela zona seca, exterior à linha de água. Não sendo possível, é sempre preferível caminhar dentro da linha de água. Apesar do piso ser mais irregular, é onde a água corre deixando o piso mais limpo e menos escorregadio", refere o mentor da Nature Lousã. Por isso, recomenda calçado com elevada capacidade de tração, como botas de canyoning, mas alerta: "Mesmo esse obriga a treino e prática a caminhar em segurança".
Já para outros percursos, aconselha usar "uma bota de caminhada, com sola 'vibran' que possui uma boa tração e proteção do pé e que se podem molhar sem que se estraguem" e a evitar "as sapatilhas de neoprene, botas de caminhada em rede ou muito abertas, ou as sandálias. Não fornecem a devida proteção à sola dos pés, deixando entrar pedras que podem causar bolhas ou feridas", explica.
Quem pode caminhar em zonas de rio?
Tecnicamente, toda a gente. Porque mesmo quem quem que não pode, só tem de adaptar o curso às capacidades, de acordo com o responsável da Hiking Around Adventures.
"Convém as pessoas terem noção das suas limitações, contudo, isso não é uma impossibilidade para caminhar ou desfrutar da natureza. Nesses casos recomendo procurarem empresas especializadas como a minha, pois irão propor uma experiência à medida das necessidades das pessoas", começa por aconselhar Pedro Mendes, que a certa altura lança como referência adicional a Soajo Nomadis, empresa especializadas em caminhadas aquáticas.
"Já tive pessoas a caminhar comigo que sofriam de cancro, outras duas com uma doença degenerativa em que a partir de certa altura perdiam a força nas pernas. Tive também uma pessoa bastante obesa e até pessoas da terceira idade", lembra.
Tudo é possível, basta força de vontade e, nos casos mais complicados, procurar ir acompanhado com quem é experiente. Para quem procura opções mais fáceis e sem descurar da beleza natural que temos em Portugal, tem o trilho Moinhos do Rei e a Levada da Víbora, ambos em Cabeceiras de Basto, exemplifica Pedro Mendes. "Existem trilhos bonitos que também podem ser adaptados às necessidades das pessoas, tornando os mais fáceis ou difíceis".
A ter sempre à mão
Aplicações. São uma grande ajuda, por isso, na mochila, que não deve ir carregada, o outro item essencial é o telemóvel.
Uma das primeiras aplicações imprescindíveis, possivelmente, nem necessita de descarregar. Tem WhatsApp? Então é tudo o que precisa para partilhar a localização com alguém para o caso de acontecer algum imprevisto, aconselha Pedro Mendes.
Outra ferramenta útil, e que deve usar ainda antes de sair de casa, é consultar a aplicação fogos.pt para ver os alertas da proteção civil quanto ao risco de incêndio nas várias regiões do País, ainda por cima numa altura em que as vagas de calor não abrandam.
"Nesta altura devemos começar os trilhos cedo por causa do calor, ou escolher trilhos abrigados", refere o fundador da Hiking Around Adventures.
Olhos abertos no caminho. Sempre.
Terreno escorregadio. Pedras polidas e húmidas. Corrente das cascatas. Tudo isto representa um perigo durante as caminhadas de verão, mas é fácil prevenir estas situações. Como?
"Devemos sempre levar connosco bastões de caminhada pois dão-nos estabilidade e vários pontos de apoio. O calçado deve ser próprio para montanha (as solas agarram muito mais no solo e nas pedras), evitar andar em cima de rochas molhadas e ou com musgo e verificar se as pedras estão estáveis ou se existe a possibilidade de se deslocarem assim que as pisamos", refere Pedro Mendes.
Já Pedro Vila Nova deixa algumas recomendações sobre as cascatas. "Na base das cascatas devemos ter cuidado com a queda de pedras e paus. Basta uma ondulação no cimo da cascata, para que haja deslocação de material que pode causar graves ferimentos, devido a altura de que caem", diz o monitor da Nature Lousã.
Quanto a rios e linhas de água, refere que "para além de se ter os mesmos cuidados das aproximações às cascatas, devemos ter atenção à vida selvagem, como répteis e javalis em alguns casos ou mesmo plantas que podem causar alergias ou ter espinhos que causam feridas bastante dolorosas". "Devemos, por isso, fazer uma caminhada sempre a olhar para onde vamos pisar e ter muito cuidado onde colocamos as mãos para nos segurarmos".
Explorar, mas também preservar a natureza
Andar na natureza acaba por ser uma atividade egoísta no sentido em que o fazemos para nosso próprio proveito: gozar de um espaço ao ar livre para lazer, como num piquenique, ou só para relaxar, através das tais caminhadas. Mas só o é quando não cuidamos dela. Quando não estamos com ela nesta caminhada de descoberta. O que é fácil de fazer e a Hiking Around Adventures é exemplo disso.
"A minha empresa, como turismo de natureza, tem algumas regras a seguir que, contudo, seriam seguidas caso não tivesse esta distinção", frisa. A sustentabilidade nas aventuras de natureza da Hiking Around Adventures acaba por ser um trabalho conjunto, uma vez que todos, monitores e caminhantes, à sua maneira, ajudam o planeta.
"Os trilhos são feitos em caminhos já percorridos [e autorizados pelo Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) ou pelos baldios locais ou proprietário do terreno], seja por pastores, locais ou trilhos marcados. Cada participante deve levar saco para o seu lixo e saco para o papel/toalhetes caso precise de satisfazer as suas necessidades. Não são importunados animais, nem destruída fauna. Durante as caminhadas, o lixo que for encontrado no chão é recolhido por mim. Participamos qualquer irregularidade às entidades competentes. Também tentamos efetuar parcerias com restaurantes e alojamentos locais de forma a ajudar financeiramente a zona onde decorrer o evento. O número de inscrições é limitado a 12 pessoas e sempre que possível existe partilha de boleias de forma a se reduzir custos e baixar a nossa pegada ambiental", refere.
Como se a lista não fosse suficientemente enorme, Pedro acrescenta que no futuro vão participar em ações de reflorestação e conservação da natureza.
Sem caminhar, mas a mergulhar em praias fluviais: cuidados
Falámos até aqui de caminhos junto aos rios, alguns para chegar até belas cascatas, mas há quem só queira mergulhar neles. E nem aqui, nas praias fluviais, os cuidados devem ser descurados, como alerta Pedro Vila Nova, monitor da Nature Lousã.
Vão depender se o piso é de areia, de cascalho rolado e fino, com seixo grande e polido ou com rochas mais rugosas — por ordem crescente de perigo e do uso que deve dar às dicas que se seguem.
"Devemos observar o fundo do rio, antes de entrar e usar a precaução devida. Não esquecer que o fundo dos rios não é plano nem homogéneo, por isso, muito cuidado com as crianças ou adultos que não sabem nadar. Podem ficar sem pé numa questão de centímetros. E nunca mergulhar de cabeça, seja onde for, se não conseguir ver com nitidez o local do mergulho", recomenda.
No entanto, eis a mensagem que queremos levar para o verão: "As praias fluviais são locais seguros, com vigilância por nadadores-salvadores. Se tiver dúvidas informe-se junto deles dos eventuais perigos que possam existir", remata Pedro Vila Nova.