A indústria da carne tem sido confrontada nos últimos tempos com os efeitos da pandemia: os restaurantes fecharam e o consumo — depois da corrida aos supermercados quando foi dado o alerta da COVID-19 em Portugal — diminuiu. Por cá, Carlos Ruivo, presidente da Associação Portuguesa dos Industriais de Carnes (APIC), revelou que "os matadouros portugueses já estão a trabalhar apenas três dias por semana e não os cinco dias úteis habituais”, disse ao "Expresso", fazendo ainda um apelo para que as pessoas prefiram "o que é nosso”.

Contudo, a realidade nos EUA é mais dura: a produção continua a ser a mesma, mas o consumo não, e o resultado são milhares de animais a serem abatidos pelos agricultores que não conseguem escoar toda a produção. De acordo com o Conselho Nacional de Produtores de Carne Suína, 10 milhões de porcos terão de ser eutanasiados até setembro de forma a evitar uma sobrelotação dos espaços de criação de gado.

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"Nenhum de nós quer sacrificar suínos, mas os nossos produtores estão a enfrentar uma situação terrível e sem precedentes", disse Bob Krebs, presidente da JBS USA Pork, em comunicado, no qual foi ainda anunciado que a empresa ia reabrir uma instalação de produção de carne de porco em Minnesota, EUA, para ser usada como local de eutanásia, capaz de matar cerca de 13 mil porcos por dia.

Quer para o caso da JBS ou de outras fazendas de criação de gado, o Serviço de Inspeção de Sanidade Animal e Vegetal do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) está a criar um Centro Nacional de Coordenação de Incidentes para apoiar os agricultores que tenham de sacrificar os animais. O objetivo é, no fundo, "identificar possíveis mercados alternativos se um produtor não puder mover animais e, se necessário, aconselhar e auxiliar nos métodos de despovoamento e descarte", dizem no site.

Um dos exemplos de agricultores que vão ter de aplicar a eutanásia são Kerry e Barb Mergen, proprietários da Daybreak Foods no Minnesota, que tiveram de adquirir tanques de dióxido de carbono para eutanasiar cerca de 61 mil poedeiras, conforme avança o jornal "Noticias ao Minuto".

Este problema pode ainda levar a outro: a sanidade mental dos agricultores. "Há agricultores que não conseguem terminar frases quando falam sobre aquilo que precisam de fazer", disse Greg Boerboom, agricultor no Minnesota, ao "The New York Times". O mesmo acrescentou que esta situação vai afastar pessoas da agricultura e levar a suicídios nas zonas rurais da América.

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Contudo, alguns agricultores já estão a tentar arranjar alternativas. Mike Patterson, um agricultor de Minnesota, está a mudar a dieta dos seus porcos, a vender a criação através do Facebook, a trabalhar com açougues locais, e a doar a produção para bancos alimentares.

"Fazemos tudo o que podemos para manter os nossos animais saudáveis ​​e desenvolvidos, para que possam ser bem utilizados nas mesas de jantar por toda a América. Deitá-los fora e desperdiçando tempo, cuidado, esforço e recursos, vai contra todas as fibras do nosso ser", disse Patterson à CBS News esta sexta-feira, 15 de maio.