Não é que as bicicletas tenham passado de moda, mas nunca foram tão cobiçadas como agora. Ao contrário da roupa, a tendência não são os padrões tie-dye ou as jardineiras, mas sim as bicicletas para descontrair pela cidade e esquecer que o resto das horas do dia são passadas dentro de casa. Foram até criados e reforçados os apoios para incentivar a compra de bicicletas, mas antes desse passo há um pormenor importante: saber o que comprar.
Uma bicicleta convencional ou elétrica? Qual a diferença? Qual é mais aconselhada para curtos percursos? E se for elétrica que velocidade deve ter? São muitas as questões dos leigos em bicicletas que só agora estão a aventurar-se nestas pedaladas e querem fazer um investimento certo e duradouro.
A MAGG foi à procura das respostas a estas perguntas e para isso pediu a ajuda da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta (MUBi) e da Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta (FPCUB).
Ambas traçaram um guia não só para perceber qual a melhor aposta entre uma bicicleta elétrica e uma convencional, conforme as necessidades e objetivos, bem como que regras de etiqueta devemos respeitar nas ciclovias e que regras de boa utilização permitem prolongar a vida o novo veículo.
Mas vamos já ao que interessa: afinal, o que distingue uma bicicleta elétrica de uma convencional? "O que distingue é o motor elétrico que proporciona assistência a quem pedala. Segundo a legislação em vigor, este motor não pode ter mais de 1000 watts de potência e tem de interromper a assistência quando a bicicleta ultrapassa os 25 quilómetros por hora ou o utilizador para de pedalar. O motor só pode ser acionado pelo movimento dos pedais", explica a MUBi. Já as bicicletas convencionais "funcionam 100% com a energia do nosso corpo, somente a dar ao pedal", acrescenta.
Se o seu objetivo é fazer algum exercício e até perder peso a pedalar, então não há dúvida de que uma bicicleta convencional é a melhor aposta. E se a intenção for tornar-se mais sustentável e trocar o carro pela bicicleta? É uma das respostas dadas pela FPCUB.
Pormenor a pormenor, explicamos como e qual a melhor bicicleta a escolher.
Quero uma bicicleta convencional
Escolher entre uma bicicleta convencional e elétrica pode ter como base um simples fator: sustentabilidade. "A FPCUB, enquanto associação de defesa do ambiente, defende sempre que se opte por uma bicicleta convencional. As bicicletas elétricas devem ser opção apenas para pessoas com mais idade ou menos mobilidade ou em casos que tenha de percorrer percursos com declives muito acentuados", afirma a Federação.
Se quer então apostar numa destas bicicletas, saiba que "mais importante do que quaisquer requisitos, é essencial colocar algumas questões prévias", refere a MUBi.
Umas delas nem era preciso enumerar porque terá sido a primeira que lhe passou pela cabeça: o orçamento. "Quanto quero/posso gastar? Uma bicicleta pode custar entre 100€ a 10 mil euros, mas por muito grande que seja o orçamento, será sempre necessário fazer escolhas e compromissos. O valor da bicicleta varia consoante a qualidade e o peso dos materiais utilizados, bem como a quantidade e variedade de componentes", explica a Associação.
A segunda questão a colocar é a distância que vai querer percorrer com a bicicleta. "Se tiver de percorrer distâncias mais longas, que impliquem mais tempo na bicicleta, deverá dar mais importância à posição na bicicleta", continua a associação. Aqui está em causa o objetivo, que definirá o tipo de bicicleta a escolher: se não precisar de atingir grandes velocidades, poderá manter uma posição mais vertical (que exerce menor pressão nas articulações dos membros superiores), ao passo que uma posição mais desportiva, para maiores velocidades, exigirá uma posição com maior apoio sobre o guiador. "A geometria da bicicleta determina estas posições e o formato de selim também varia em função destas posições".
Quanto a esta questão, a Federação Portuguesa de Cicloturismo e Utilizadores de Bicicleta defende que "a pessoa deve sempre comprar uma bicicleta adequada ao tipo de utilização que lhe vai dar" e dá alguns exemplos relacionando o tipo de percurso com as condições do mesmo. "Se o percurso for curto, plano e em asfalto, uma bicicleta de cidade ou uma dobrável são o ideal; se incluir grandes declives convém uma bicicleta com uma roda maior e muitas mudanças; se for para fazer uma viagem intermodal, a bicicleta dobrável é mais fácil de combinar", diz, sugerindo que todas as opções devem ser ponderadas para apostar na melhor alternativa.
Outra das questões a ter em conta, é que se for daquelas pessoas que precisa de andar sempre com a casa ou as crianças às costas, deve então apostar numa bicicleta que possa ter alguns suportes. Um deles é o alforge (malas que se transportam na bicicleta) para colocar, por exemplo, um bom avio de supermercado, já um cesto dianteiro é suficiente para transportar compras ligeiras, e, para cargas maiores, deve apostar numa bicicleta de carga (cargo-bike).
Por fim, e sem dúvida igualmente importante, analise se tem onde estacionar a bicicleta. Se não tiver um local seguro, deverá apostar num cadeado robusto.
Quero uma bicicleta elétrica
Apesar de menos amigas do ambiente, estas bicicletas podem ser amigas de uma mobilidade mais eficiente. Ainda assim, há vários aspetos a ter em conta no momento da compra. "A pessoa pode ter o cuidado de ver o tempo de vida útil da bateria por exemplo. É importante recordar que uma bicicleta elétrica precisa de receber energia não renovável", alerta a FPCUB.
Além disso, a Federação indica que antes da compra "deve-se certificar que a mesma cumpre com os requisitos do código da estrada para ser equiparada a um velocípede, ou seja, com velocidade máxima de 25 quilómetros por hora e 250 watts, vulgarmente conhecidas como pedelecs" — que por atingirem maiores velocidades do que uma bicicleta convencional, deve "ter cuidado nas paragens e arranques".
Ponto por ponto, saiba que requisitos (alguns semelhantes aos que se aplicam às bicicletas convencionais) deve analisar ao comparar a oferta de bicicletas elétricas, de acordo com as recomendações da Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta.
- Carregar a bateria: quase todos os modelos de bicicletas elétricas permitem destacar a bateria (retirar para se transportar connosco) do corpo da bicicleta, mas nem sempre é prático. O ideal será conseguir chegar com a bicicleta a uma tomada elétrica de 220 volts.
- Estacionamento: sendo uma elétrica, o estacionamento ganha novos contornos, não apenas pelo valor, como pelo peso. Se tiver de carregar a bicicleta, no sentido de a levantar e levar (por exemplo subir escadas num prédio), para a guardar, é importante pensar que estas bicicletas chegam facilmente aos 20 quilogramas. O valor monetário da mesma é sempre muito superior a uma bicicleta convencional de mesmo nível de materiais e equipamentos, o que a torna mais apetecível a furtos. Ter um local seguro para a guardar é ainda mais importante.
- Distância: que distância e qual a orografia? A autonomia da bicicleta elétrica determina que distância pode ser percorrida com assistência e essa autonomia varia em função do número e declive das subidas que iremos enfrentar. O peso do utilizador também pode influenciar a autonomia da bateria.
Ao comprar uma bicicleta elétrica, deve ter em conta que o cartão multibanco para estas bicicletas não se estende só uma vez. "Além de serem mais caras na aquisição, as elétricas têm um maior custo de manutenção", diz a FPCUB.
Uma bicicleta nunca vem só
Comprar uma bicicleta não é "só" comprar uma bicicleta e não falamos aqui de custos. Falamos de segurança, uma vez que, tal como no carro, há um código da estrada para seguir (pode consultar aqui) que refere como movimentar-se para sua segurança e dos outros. Contudo, ao contrário daquilo que se pensa, o código não obriga, em Portugal ou em qualquer país da União Europeia, a usar capacete. "A utilização de capacete não é obrigatória, quem se sentir mais seguro pode utilizar", refere a Associação pela Mobilidade Urbana em Bicicleta.
Ainda assim, há vários itens que deve assegurar que estão na bicicleta ou consigo, segundo a MUBi.
- Luzes e refletores: as luzes são obrigatórias segundo o código da estrada em situações de má visibilidade, ou seja, de noite e em situações de nevoeiro. Os refletores são sempre obrigatórios. Tem de existir refletor branco à frente e vermelho atrás, dois refletores em meia-lua por cada roda, de cor âmbar ou brancos (ou, em substituição, uma fita refletora em todo o diâmetro da roda), e refletores nos pedais. Em termos de luzes, é obrigatório o uso de uma luz branca à frente e uma luz vermelha atrás.
- Cadeado: essencial para prender a bicicleta quando não a vigiamos. A teoria é que devemos investir num cadeado com um valor equivalente a 10% do valor da bicicleta. Um cadeado de 10€ a 15€ dificilmente oferecerá proteção para mais do que impedir que alguém agarre na nossa bicicleta e fuja a pedalar e um cadeado de 200€ a 300€ poderá não ser suficiente para impedir que a nossa bicicleta seja levada por alguém com as ferramentas e conhecimentos certos.
Agora que tem as bases, sabia que antes de tomar a grande decisão entre uma bicicleta convencional ou elétrica pode e deve experimentar a bicicleta em que pretende investir? "Sim, mas ainda mais se for uma bicicleta elétrica. Ter atenção à posição de condução, conforto de condução, ao tamanho da bicicleta e formato do quadro, por exemplo", indica a FPCUB.
Regras de etiqueta a pedalar
Alguma vez lhe aconteceu estar a andar na rua e ouvir uma campainha furiosa? Pois, provavelmente estava a caminhar de modo indevido numa ciclovia, não é? Não só os peões devem respeitar o espaço dos ciclistas, como os próprios devem respeitar-se uns aos outros e ainda aos condutores, por isso dizemos como se deve comportar na pele de um ciclista.
É bastante importante seguir regras de etiqueta, algumas incluídas no código da estrada. Promover a ligação dos percursos cicláveis entre todas as freguesias e zonas de uma cidade e locais de maior afluência de pessoas de forma segura e saudável para todos é uma das missões da MUBi, que à MAGG enumerou alguns aspetos que leve levar a pedalar consigo.
- Ao ultrapassar uma bicicleta, os veículos são obrigados a reduzir a velocidade, ocupar a via adjacente e guardar a distância lateral de segurança de pelo menos um metro e meio.
- Na ausência de sinalização, os carros devem ceder passagem a bicicletas que se apresentem pela direita.
- As bicicletas podem circular a par, desde que a visibilidade e a intensidade do trânsito o permitam.
- Existe o mito de que as bicicletas devem ir “o mais à direita da via”. Por questões de segurança para utilizadores de bicicleta, estes devem adotar um posicionamento mais central na via, permitindo ser mais visíveis e ter espaço de segurança em casos de abertura de portas de carros estacionados à direita, ou ter espaço para contornar em segurança buracos ou outros obstáculos, como vidros, que estejam nas bermas.
- Os estacionamentos aconselhados pela MUBi são os do tipo Sheffield (U invertido). Devem prender-se as duas rodas e o quadro ao suporte. Pode prender-se também o selim. Alternativa: substituir os apertos rápidos das rodas e selim por um sistema de porcas de segurança.
Não saia à rua para pedalar sem estas apps
Se não saímos à rua sem telemóvel, muito menos devemos sair de bicicleta sem saber quais os acessos para o destino para onde queremos ir, se vamos ter onde estacionar a bicicleta e até como circular de forma mais sustentável.
A MUBi selecionou uma série de apps úteis aos ciclistas, principalmente para os estreantes nas ciclovias das cidades.
- O Cidade Ciclável é uma plataforma colaborativa da MUBi, na qual qualquer utilizador de bicicleta pode verificar onde existem parqueamentos para bicicletas, avaliar os estacionamentos já registados, e ainda fazer pedidos de estacionamentos em locais necessários. Os inputs deixados pelos utilizadores são ainda úteis às autarquias no planeamento e gestão dos equipamentos para parqueamento de bicicletas.
- O Ciclovias.pt é uma plataforma onde se pode verificar onde existem ciclovias, a nível nacional.
- A aplicação Biklio oferece descontos em lojas se uma pessoa chegar de bicicleta. Existem ainda outras aplicações que permitem calcular rotas cicláveis, como a Komoot ou a Osmand.
- Para o município de Lisboa, pode ser consultado no site da Câmara Municipal de Lisboa um mapa que contém as ciclovias e parques para estacionamento de bicicletas que existem no município.
- A recente plataforma Lisboa para Pessoas contém alguma informação útil sobre mobilidade sustentável.