Subiu para sete o número de crianças mortas no Reino Unido na sequência de uma infeção pela bactéria "Strep A" (estreptococos do grupo A), facto que está a assustar os ingleses e já fez as entidades de saúde emitirem um aviso em relação a este surto. As mortes têm vindo a acontecer desde setembro, vitimando crianças abaixo dos 10 anos, à exceção da última, que se tratou de uma criança com 12 anos.

Este ano, urgências estão entupidas com bebés com bronquiolites. Pediatra lança alerta e explica o que fazer
Este ano, urgências estão entupidas com bebés com bronquiolites. Pediatra lança alerta e explica o que fazer
Ver artigo

Mas, afinal, o que é esta bactéria e o que a torna tão perigosa? Na verdade, se tem filhos, é possível que os seus já a tenham apanhado, dado que a estreptococos do grupo A é a bactéria mais comum nas tão frequentes amigdalites bacterianas — mas, felizmente, os casos graves da infeção pela mesma são raros.

Bactéria que está a matar no Reino Unido é a mesma da maioria das amigdalites

"A estreptococos do grupo A é a bactéria responsável pela grande maioria das amigdalites bacterianas, diria que cerca de 90% destas amigdalites são mesmo causadas por esta bactéria, tanto em crianças como adultos", diz Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra no Hospital Lusíadas Porto e no Centro Manterno-Infantil do Norte, à MAGG.

De acordo com o especialista, as amigdalites causadas por esta bactéria traduzem-se em amígdalas "cobertas de pus branco", bem como "febres altas e dores de cabeça intensas", mas esta doença pode evoluir para uma outra que bem conhecemos: a escarlatina.

Manuel Ferreira de Magalhães
Manuel Ferreira de Magalhães, pediatra no Hospital Lusíadas Porto e no Centro Manterno-Infantil do Norte

"A escarlatina vem sempre acompanhada de uma amigdalite, embora o contrário não aconteça: é perfeitamente possível que uma amigdalite bacteriana não evolua para a escarlatina. A escarlatina surge em algumas situações, quando a estreptococos do grupo A liberta umas toxinas que fazem uma reação na pele", explica o pediatra.

A pele das crianças fica toda vermelha, com uma textura rugosa, mas o tratamento não difere do da amigdalite bacteriana. "Trata-se na mesma com antibiótico", esclarece Manuel Ferreira de Magalhães.

A infeção por estreptococos do grupo A pode resultar em morte — mas casos são raros

De acordo com o pediatra Manuel Ferreira de Magalhães, a forma desta bactéria se tornar realmente perigosa é quando a infeção resulta numa infeção mais generalizada, causando uma sépsis ou síndrome do choque tóxico. Isto acontece quando as toxinas chegam ao sangue, levando a quadros muito mais graves.

"No caso de uma sépsis ou de síndrome do choque tóxico, a taxa de mortalidade é substancial. No entanto, em Portugal, são muito raros os casos que a estreptococos do grupo A leva a este tipo de quadros, sendo que a maioria resulta em internamentos em cuidados intensivos. Na minha carreira, devo ter assistido a uns três, quatro casos deste tipo", refere o especialista, também responsável pela página de Instagram O Pediatra.

Pais que não deixam os filhos sujarem-se a brincar estão a prejudicá-los. Micróbios fazem falta, dizem os médicos
Pais que não deixam os filhos sujarem-se a brincar estão a prejudicá-los. Micróbios fazem falta, dizem os médicos
Ver artigo

No entanto, Manuel Ferreira de Magalhães esclarece que é importante não causar o pânico e não começar a associar imediatamente amigdalites bacterianas a estes quadros mais graves. "Quando estamos perante uma infeção generalizada, a criança dá sinais de estar gravemente doente. Estamos a falar de situações com febres altíssimas, em que a criança se encontra com um mau estar geral, apática. É muito visível e percetível de que estamos perante uma situação muito grave."

Há crianças mais sensíveis às infeções graves?

Não. De acordo com o pediatra do Centro Manterno-Infantil do Norte, não existem fatores de risco. "Estes casos, em que a bactéria resultou numa infeção mais generalizada, são muito variáveis. Não conseguimos identificar fatores, nem nada que ligue os casos dos surtos. Porque a verdade é que, geralmente, é assim que acontecem, em surtos. Podemos passar um ano inteiro sem ver nenhum caso do género, e depois, no espaço de um mês, vemos dois ou três sem que os consigamos ligar."

Manuel Ferreira de Magalhães salienta ainda que os casos mais graves podem prender-se com a própria "agressividade das bactérias" e é "difícil prever" o que leva a uma evolução da gravidade dos quadros, reforçando a raridade destas situações.