Na entrevista desta segunda-feira à noite, 6 de setembro, a Miguel Sousa Tavares, a terceira à TVI desde o início da pandemia, o primeiro-ministro António Costa falou do tema incontornável, a COVID-19, mas também do seu papel a longo prazo como líder do Partido Socialista (PS) — assunto a que Costa fugiu durante o congresso do PS, que decorreu de 27 a 29 de agosto, em Portimão, embora não tenha conseguido controlar a especulação sobre o seu sucessor.
Contudo, ainda faltam dois anos para se saber qual o futuro do partido, como frisou António Costa. "Acabo de ser reeleito secretário-geral do PS. Tenho mandato com o PS até 2023. Aquilo que sei é que nos próximos dois anos tenho de estar concentrado a 200% na minha missão", afirmou o primeiro-ministro na entrevista conduzida por Miguel Sousa Tavares no "Jornal das 8".
"Em 2023 vou fazer aquilo que responsavelmente qualquer político tem obrigação de fazer: avaliar-se. E falarei com a minha mulher para saber (...) da nossa vida, ouvirei o PS e também os portugueses", continuou. António Costa diz que não vai fazer do tema um tabu, mas esperará pelo tempo certo para falar sobre isso. Primeiro, há uma pandemia para combater.
A pandemia foi, aliás, tema que esteve presente em quase toda a entrevista desde o início, especialmente num momento em que 85% da população portuguesa já está vacinada com, pelo menos, uma dose da vacina contra o novo coronavírus SARS-CoV-2 — taxa atingida este domingo, 5.
"Tivemos momentos em que tememos que fôssemos ao fundo. Hoje estamos a poucas semanas de considerar termos atingido, graças à vacinação, um processo de controlo da pandemia", disse a respeito do sucesso do plano de vacinação em Portugal. A mesma ideia foi reforçada sobre a economia, que contou com o apoio de "recursos extraordinários que a Europa disponibilizou" e permitiram que Portugal esteja a navegar para bom porto. "Neste momento não estamos no Titanic, nem o barco está a ir ao fundo, pelo contrário".
Contudo, António Costa lembra que a pandemia "não desapareceu, vai continuar a andar pelo mundo" e que há risco de aparecerem novas variantes noutros continentes, mas "o otimista incorrigível, como diz o Presidente da República" e Miguel Sousa Tavares durante a entrevista, considera que Portugal vai "conseguir atingir um ponto de segurança" em breve.
Uma das duras consequências da pandemia da COVID-19 foi a economia do País, com vários setores fragilizados e portugueses que ficaram sem trabalho. Sobre este ponto, António Costa frisou que atualmente a taxa de desemprego é inferior à que tínhamos no início da crise provocada pela pandemia.
"Estamos próximos dos cinco milhões de pessoas que estão neste momento a trabalhar e, portanto, felizmente, a nossa sociedade, a economia, e as nossas empresas resistiram melhor do que todos pensávamos", disse o primeiro-ministro, acrescentando que as medidas de apoio do governo ajudaram a evitar o agravamento da situação.
O caminho para travar ainda mais a taxa de desemprego, também relacionada com os encargos sociais sobre o trabalho e imposto sobre o rendimento do trabalho, acusou Miguel Sousa Tavares, passa por, segundo António Costa, a "maior valorização das qualificações das pessoas empregadas", incluindo dos jovens para quem foi criado um apoio específico, o IRS Jovem para que tenham um maior rendimento disponível durante a vida ativa — apoio que para Miguel Sousa Tavares já veio tarde.
Na entrevista de mais de 45 minutos foi feita ainda uma análise do estado do País relativamente à Europa — "fomos o País da União Europeia (UE) que mais cresceu economicamente no último trimestre", diz António Costa —, abordada a gestão de fundos da UE (como na área da tecnologia e da sustentabilidade), a situação da TAP e os escalões de IRS, que o primeiro-ministro admite que podem mudar no próximo Orçamento do Estado para 2022. A ideia será desdobrar o terceiro e o sexto escalão.
"No terceiro escalão, que cobre rendimentos entre os 10 mil e os 20 mil euros, temos uma enorme diferença. Depois, há o sexto escalão, entre os 36 mil euros e os 80 mil euros, onde há uma diferença gigantesca", explicou.
Apesar de toda a entrevista ter decorrido quase sem provocações, quando António Costa afirmou que considera que nunca tomou uma decisão errada, Miguel Sousa Tavares questionou o primeiro-ministro se sobre se a afirmação também se aplica à abertura dada no Natal de 2020 e Passagem de Ano, que terão conduzido "ao aumento de casos" de COVID-19. O primeiro-ministro não fugiu ao assunto e justificou lembrando que a decisão foi tomada quando ainda não se sabia que a variante Alfa ia entrar no País e expandir-se tão brutalmente.