A cafetaria A Mulata, um espaço vegetariano que chegou a Aveiro em setembro de 2016, foi um dos primeiros projetos de Joana Teixeira dos Santos, formada em hotelaria. Antes também já tinha ajudado a criar o festival Aveiro Verde, focado em sustentabilidade e ecologia, que teve uma pausa devido à pandemia. Quem não teve pausas foi esta vegetariana de 33 anos que forçada a fechar A Mulata em contexto de pandemia, decidiu criar, finalmente, A Queijeira Verde.

"A Queijeira Verde era uma ideia que ia deambulando pela minha cabeça já há algum tempo, mas estava presa à pressão e correria do dia a dia, ao vaivém entre a minha vida pessoal e familiar, o meu negócio A Mulata, bem como a iniciativa Aveiro Verde. Com a chegada da COVID-19 e as suas incertezas, vi o empurrão que me faltava e em maio deste ano A Queijeira Verde sai finalmente 'à rua'", conta Joana à MAGG.

Joana Teixeira dos Santos
Joana Teixeira dos Santos créditos: divulgação

Podia ter sido um projeto de marmitas vegan, dos famosos pães de massa mãe, mas a grande questão é: porquê queijo? O melhor mesmo é ser Joana Teixeira dos Santos a explicar: "Como era amante de queijo e este sempre foi o meu calcanhar de Aquiles, como creio que o será para muitos que querem seguir uma alimentação vegetariana, tinha, imperativamente, de encontrar alternativa".

Foi então que entre frutos secos e especiarias encontrou a fórmula para arrancar com o seu projeto, que não é só sobre comida. "O conceito 'verde' nasce já com A Queijeira Verde por tudo o que representa, uma vez que é uma alternativa aos lacticínios de origem animal que, já se sabe, constituem um problema ambiental imenso, além de, naturalmente, serem um risco para a saúde dos seus consumidores", diz Joana.

O objetivo do projeto não foi apenas o de satisfazer o desejo de quem quer comer uma alternativa vegetal aos tradicionais queijos, de forma a que o consumo não tenha repercussões sob a exploração animal, mas também o de aumentar a oferta disponível destes produtos.

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"Pareceu-me haver uma lacuna no mercado, especialmente quando falamos em queijos vegetais saudáveis e com mais qualidade nutricional do que os queijos vegetais já comercializados que, por norma, têm uma série de ingredientes nocivos ao nosso corpo, como corantes, conservantes, aromas artificiais, etc", refere Joana. Excluindo todos estes ingredientes, o processo de fazer queijo vegetal parece ser ainda mais fácil, ao contrário da ideia que habitualmente temos sobre estas alternativas.

"Fazer queijo vegetal é fácil e simples"

Se pensarmos bem, fazer um bom queijo de origem animal exige vários processos, alguns demorados, até chegar ao ponto pretendido: quer seja mais seco ou mais amanteigado, se for um queijo da Serra da Estrela, por exemplo. O mesmo acontece com os queijos de origem vegetal, com a diferença de que a lista de ingredientes pode ser ligeiramente maior do que os queijos de origem animal, que habitualmente têm pouco mais do que leite pasteurizado, sal, coalho e fermentos lácteos.

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"Fazer queijo vegetal é fácil e simples, mas requer muita paciência e, eu diria, muito carinho", revela Joana. Para mostrar que é simples, a mesma está a organizar uma formação — o primeiro curso de Preparação Caseira de Queijos Vegetais (25€). Este inclui uma aula prática online, um e-book com várias receitas, dicas e informações nutricionais, um desconto de 10% numa próxima formação ou na aquisição de uma BOX d'A Queijeira Verde e ainda um diploma.

Sim, porque daqui não se levam só receitas e novos conhecimentos, pode ser uma alavanca para o mercado de queijo vegetariano (e quem o é agradece). As inscrições, limitadas, decorrem até 23 de julho.

Pode aprender, por exemplo, a fazer um queijo vegetal curado e fermentado de pimentão doce fumado ou de ervas, dois dos mais elogiados entre a oferta d'A Queijeira Verde. Além destes best-sellers, há ainda o de tremoço, de amêndoas e piri-piri ou de tofu e ervas. Tudo isto vem dentro de umas caixinhas especiais.

O que traz uma box d'A Queijeira Verde?

Todas as semanas há uma nova, e literal, caixinha de surpresas. A cada segunda-feira, mesmo para começar bem a semana, Joana divulga os três produtos que vão fazer parte da box semanal e não são apenas queijos. Além dos curados e fermentados ou queijos frescos, há também pastas, tudo maioritariamente feito a partir de frutos secos.

Os lisboetas que se aguentem, porque estas caixas só são entregues na zona norte. Todas as sextas-feiras as box são entregues em mãos gratuitamente nos concelhos de Aveiro e Ílhavo, mas também podem ser levantadas no “pick me point”, o espaço VEGIFRUT, em Aveiro.

Só não pode atrasar-se a fazer a encomenda. É que além de as box’s esgotarem rapidamente, só podem ser feitas até às 19 horas de cada terça-feira através das redes sociais d'A Queijeira Verde — Facebook e Instagram — ou através do e-mail (aqueijariaverde@gmail.com). Cada box tem um valor fixo de 15€.

Sendo este um projeto ligado à sustentabilidade, o mesmo conceito não podia faltar na forma como os produtos são entregues. "Todo o processo de confeção até ao embalamento recusa plásticos, dando preferência ao papel reciclado e ao vidro que pode ser reutilizado pelos nossos clientes e constitui, assim, outra forma de fazermos justiça ao nosso nome e ao nosso propósito", explica Joana à MAGG.

“Faça local, compre local”

Quando Joana idealizou A Queijeira Verde não pensou apenas em si, nos animais e nos consumidores. Pensou em todos aqueles que, como ela, são empreendedores. Depois de a própria sofrer com o impacto da pandemia no comércio tradicional ao ter de fechar a cafetaria A Mulata, decidiu apoiar aqueles que ainda têm as portas abertas, ou cujos projetos querem e devem chegar a mais gente.

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Foi por isso que decidiu juntar a cada box uma oferta, como um voucher de desconto ou uma amostra. "Queremos que em todas as nossas box’s exista uma parceria para que negócios e projetos do distrito de Aveiro (ou de quem se quiser aliar a nós), que se revêem nos nossos propósitos possam chegar a mais gente e combater o tanto que se perdeu a nível económico e até social com a COVID-19", revela a proprietária d'A Queijeira Verde. Basta para isso entrar em contacto com A Queijeira Verde.

Pelas box's já passaram crackers vegan da Daniela, pequenas peças de arte da Mãedala, ou o trabalho da Figa Criativa e da Kokoro Papercraft.

Esta iniciativa já está até a ser alvo de projeções para o futuro. Joana revelou à MAGG que quer expandir A Queijeira Verde e esse passo vai passar por juntar o principio “faça local, compre local”. A ideia é incentivar o empreendedorismo e criar "sinergias e projetos bonitos um pouco por todo o país", diz.